Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

2/23/2004

Sunday, Bloody Sunday

O tempo: tá mau
Lu está: a compensar os dias em que não escreveu

Ho_e nã_ consigo fala_ _uito bem...

A toda a comunidade blogueira e blogófila que visita o meu pequeno recanto depressivo, peço desde já as mais sinceras desculpas por esta lacuna de 5 dias. Não tenho postado ora porque não tenho tempo, ora porque não me apetece. Gente deprimida é assim. Mas cá estou eu de novo, para me redimir da insustentável expectativa em que vos deixei. Ou não, ou não...

Pois é, a minha boquinha tem dodói, porque ontem arranquei um ciso. E que ciso. Era um senhor dente! Mal cabia no ratinho. Erm... o ratinho é a caixinha para trazer o dente como recordação. Sim, eu sei; guardar dentes de recordação é pindérico e infantil (ainda por cima numa caixa em forma de rato!), mas eu gosto, o que é que querem? É uma parte do meu corpo, por isso tenho-lhe estima. Não, eu não guardo cabelos nem aparas de unhas (eeeewwww!). Mas os dentes são diferentes. Fazem parte da minha estrutura óssea. Servem para alimentar, para comunicar... Mas que estou eu a dizer?
Ora este dente colossal não estava a servir para muita coisa senão estragar a linda composição do meu sorriso, uma vez que estava a empurrar os outros dentes. Os mesmo se passa com os outros 3 cisos, por isso vou arrancá-los nas próximas semanas. Ui, que martírio!
Eu já estou farta deste desconforto, farta de não poder trincar coisas, farta de comida de bebé; só batidos e sopinhas e suminhos e papinhas... Grrr! Eu estou cheia de fome!
Ontem, estava aborrecida e fui à despensa... tenho o impulso de ir buscar qualquer coisa para trincar sempre que estou aborrecida. Mas eu esqueci-me de que não posso trincar! Cream Crackers, bolachas recheadas, bolachas com pepitas, tabletes de chocolate com avelãs, chocolate com arroz tufado... Tudo coisas que eu adoro, tudo ali, a olhar para mim e eu a morder uma gaze, sem poder comer nada daquilo.
Para piorar, à noite, os meus amigos foram todos curtir o Carnaval na discoteca. E eu fiquei feita urubu em casa. Nada de fumo (atenção, eu sou só uma fumadora passiva... que remédio), nada de álcool, nada de esforços... ainda por cima, durante esta semana não posso fazer as aulas de Dança.
Bah, para isso mais valia ficar com o dente. A única parte boa de arrancar um dente é que comer gelados não só é bom, como recomenda-se. :o)

Em compensação, curti uma bela noite de trovoada na minha casinha. Confesso, o barulho dos trovões arrepia-me toda, mas adoro a luz, o encanto, o poder dos relâmpagos. Tive recordações... De uma certa praia, de uma certa pessoa, de um certo amor... *suspiros*

Como já sabia que o fim-de-semana iria ser murcho por causa do dente, na sexta-feira tratei de aproveitar. Eu e a Amiga (já sabem qual) saímos e encontrámos o Amigo do Piercing na discoteca. Foi uma noite surreal. Primeiro, porque tive dois anormais na minha cola o tempo todo. Um deles ficou mesmo completamente obcecado e não largava a minha mão. "Oh, dançava contigo a noite toda! Por favor, fica comigo!"... Freak!
Depois... bem, a Amiga e o Amigo do Piercing curtiram. Nada que eu não esperasse até à noite anterior, quando a Amiga me disse que os dois nunca seriam nada além de bons amigos. Pois, amigos já vi que são. Têm é muitas cores à mistura. :oP
Acho que foi a primeira vez que me envolvi num triângulo. Por ordem mais ou menos cronológica:
- O Amigo do Piercing reparou em mim
- Eu reparei no Amigo do Piercing
- A Amiga reparou no Amigo do Piercing
- O Amigo do Piercing reparou na Amiga
Foi um bocado estranho falar com a Amiga sobre o assunto. Como não me considero disponível para ninguém, não me preocupei com isso. O Amigo do Piercing é só mais um homem engraçadinho. Que acabou por virar meu amigo. Gosto muito dele e estar com ele faz-me muito bem. SÓ.
Ainda assim, depois de andar aos melos com a Amiga, veio perguntar-me se eu já estava decidida a revelar aquela ideia que eu lhe tinha prometido. Duh! Sou louca, mas não promíscua. Disse-lhe que a ideia, naquele momento, era impraticável... (Como se ele não soubesse que tipo de ideia era...)

Dentes e confusões à parte, até estou bastante animada. No próximo mês vou dar um workshop de Dança Contemporânea. Vou juntar o útil ao agradável. Por um lado, ganho mais umas massas, que nesta altura muita falta fazem, mas acima de tudo, vou voltar a dar aulas! Ai, que saudades que tenho de dar aulas de Dança!
Vamos lá ver é se até lá tenho tempo para preparar as aulas. É que eu tenho de acabar duas coreografias para os espectáculos do meu grupo e os ensaios no Teatro começam a ser puxados, uma vez que no próximo mês também vou ter actuações da peça. Sometimes it sucks being a showbiz bitch! :o)

Fui ver a casa nova do meu mano. Amei! É espaçosa, bem equipada. E vê-la vazia deu-me logo ideias para a decoração. Eu sempre fui a mestre de artes decorativas na minha família. Mas com a cunhada que tenho, acho difícil ter algum poder de opinar.
Ai, nem acredito que daqui a poucos meses ele vai estar casadinho e feliz! E aqui a boa da Lu vai ficar encalhada... Vou ficar para tia. Se bem que a ideia de ter uns sobrinhos em breve me agrada imenso.

Ontem à noite, telefonei ao P.C., para me despedir. Ele foi-se embora esta manhã, bem cedo. Deve ter chegado ao destino às 4 da tarde, hora de Portugal.
Foi tão estranho falar com ele sem saber ao certo quando terei outra oportunidade de ouvir a sua voz. Não lhe contei, mas quando disse "adeus, boa viagem", estava quase a chorar.

Tenho uma fantasia de Carnaval super gira e sexy, mas não sei se terei oportunidade de a usar. Não sei se terei a boca inchada, nem se terei companhia. A Amiga disse-me ainda há pouco que vai viajar. Oh, sem ela, que piada tem o Carnaval?

Já não escrevo mais por hoje. A minha vida é demasiado sensaborona para dar mais detalhes. Vou ouvir música Jazz e comer pudim, ou um gelado. Ao menos isso posso comer!
Só mais uma coisa: o título da posta de hoje não tem nada aver com o que escrevi. Mas tem a ver com o dia de hoje. Ia no carro, a caminho da casa do meu irmão, a ouvir a rádio e passou a música dos U2, precisamente com esse título. Lembrei-me da minha gengiva inflamada, das mixórdias que tenho de comer, do fim-de-semana decadente que estava a ter, da falta que uma certa pessoa me faz. Foi, na verdade, um bloody Sunday.

2/17/2004

Férias, onde andais?

O tempo: so and so
Lu está: so and so, também

Ok, era um devaneio romântico.
Não quero com isto dizer que nada daquilo é verdade e que não desejo o que descrevi...

Estou é mais sensivelzita. Por causa do fim das minhas férias.
Estou tão deprimida... Ena, eu disse deprimida? Há canos que não escrevia essa palavra! (há que manter alguma coerência com a essência do blog)
A sério, não tenho vontade nenhuma de trabalhar.
Sim, eu sei, Mãe; a esta altura está vossemecê a rir: "Hah, mas tu NUNCA tens vontade de trabalhar!"
É verdade, sou preguiçosa, mas trabalho. E nesta altura estou particularmente depauperada de vontade de trabalhar.
E além disso, a Mãezinha nem sequer lê o meu blog, por isso, não é para aqui chamada.

Pois é, a morte das férias pôs-me de luto, mas ao mesmo tempo estou cá com uma energia. Só me apetece farra.
Ai, que saudades que tenho das férias...
Como eu queria que já fosse Verão!
Não ter nada para fazer; dormir, dormir, dormir...
Não me limitar a ler um livro, no autocarro ou na sala de espera. Mas vivê-lo sobre a paz de um sofá.
Andar de umbigo à mostra, receber a Vitamina D dos raios de sol...
Dar longos passeios, sem preocupações.
Tomar refrescos à beira-mar.
Passar serões com os amigos, a rir.
Namorar a noite ao ritmo frenético de uma discoteca.
E recomeçar a doce rotina do ócio.
Isto sim, é qualidade de vida.

Mas há que fazer pela vida. Tenho imensas despesas e pouco dinheiro. É tão triste ser portuguesa... *suspiros*
Por isso mesmo, hoje enviei inscrições para sítios... para ganhar umas massas extra...
Não vou dizer o que é. É muito decadente. Mas com o horário que tenho é o último recurso.
Não, não é isso que estão a pensar!
Não vou alugar o corpo em Monsanto.
Nem tampouco tirar a roupa num bar de strip.
Também não vou lavar escadas.
Ou distribuir publicidade.
Se me chamarem... olhem, escolho o que quero fazer! Não é bom trabalhar assim?

2/16/2004

AMOR VITA EST

O tempo: ...
Lu está: à procura do Amor

Devia estar a dormir, porque tenho de me levantar cedíssimo.
Mas não tenho sono e estou para aqui a pensar e a escrever coisas irrelevantes.

O Aluno da Academia Militar é irrepreensivelmente honesto em todos os actos da sua vida, não faltando jamais à verdade nem procurando obter por meios condenáveis aquilo a que não tem direito ou que não pode conseguir à custa do seu próprio esforço. (do Código de Honra da Academia Militar)

Não sei porquê, achei isto tão irónico... Bem, por acaso até sei, mas não me apetece desenvolver.


Na Academia Militar, os cadetes têm uma divisa, que roubaram a Quinto Horácio Flaco, numa das suas Odes: DVLCIS ET DECORVM EST PRO PATRIA MORI

Horácio, sabes que sempre gostei de traduzir as tuas odes, entendo-te nos teus ideais da "aurea mediocritas" e do "carpe diem"; até gostava de ser Leocónoe ou a tua Lydia, para me ensinares a amar os rios e as flores e as pequenas coisas que nos fazem felizes hoje, em vez de me preocupar com os medos e as paixões violentas do amanhã... mas devo dizer que discordo dessa tua frase.
Morrer pela pátria? Mas o que é a pátria? O que representa? Que faz ela por mim? O que é ela na minha vida e o que sou eu nela?
A minha pátria é o Cosmos e só me preocupo em viver em harmonia com ele.

Tomo a liberdade de adulterar a afirmação e dizer: DVLCIS ET DECORVM EST PRO AMORE MORI.
Quão mais doce e digno é dar a vida pelo Amor! Viver do, pelo, para, no Amor.
O Amor sim, dá-nos imenso. Enche-nos de vida e felicidade; torna-nos pessoas melhores; transforma-nos por dentro e até por fora.

Acho que era isso que me apetecia neste momento. Ter um amor tão grande que até doesse de tanta felicidade. Amar de forma tão forte e arrebatadora, a ponto de isso ser superior à vida, à morte.
Não, não sou epicurista, nem tampouco estóica. Não me preocupam tanto as paixões que Horácio que ensinou a evitar. São elas que me fazem sentir viva.
(...) o amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o sepulcro, os seus ardores são chamas de fogo, os seus fogos são fogos do Senhor. As muitas águas não poderiam extinguir o amor, nem os rios o poderiam submergir (Cant. 7, 6-7)
É esta força bruta como torrentes e vulcões e tempestades que eu admiro. É esta energia sob a forma de sentimento que eu anelo ter.

Gosto da vida que tenho, que, apesar de tudo, é despreocupada e amena, repleta de pequenos prazeres que lhe dão côr. Não me posso queixar.
Mas talvez por ser amena me pareça incompleta, ténue...
Queria algo que me fizesse sentir plena, grande, especial. Nada de paixonetas fugazes. Por isso é que não estou preocupada com o facto de elas acontecerem ou não. Aconteçam ou não, são sempre fugazes, passageiras.
O Amor não.

Vejo o Amor ao meu redor, onde quer que olhe e não o conheço. Queria capturá-lo, apreender a sua essência e com ela transformar-me. Queria que entrasse em mim e eu nele para nunca mais me perder...

Será normal pensar assim nesta fase? Será demais desejar o que desejo?
Estarei louca? Será isto um mero devaneio romântico?

2/15/2004

Jolas e minuins...

O tempo: sol, 14º
Lu está: insana

Mas que belo serão, o de ontem!
Fomos para a casa de um dos nossos novos amigos e foi a desbunda total.
Havia lá um monte de gente que não conhecíamos e não paravam de chegar mais. Enquanto uns faziam troça de pessoas na internet e outros viam um filme violento (kids these days...), eu, a Amiga e o Amigo do Piercing ficámos na cozinha, a socializar com cerveja e amendoins. Mesmo à Zé-Chunga...
Mas foi giro, foi muito giro. Ficámos muito amigos.
Não me lembro de uma noite em que tenha visto, dito, feito e rido de tanto disparate... Acho que o Amigo do Piercing não esperava que eu e a Amiga fôssemos tão loucas. Bem, até nem somos; temos os nossos dias de inspiração, simplesmente. Ontem estávamos inspiradas e as cervejas mais os shots ajudaram (não que eu tenha bebido...) :o)
Até tentámos pintar os lábios do nosso Amigo do Piercing com gloss e para isso tivémos de o assediar imenso... Foi uma noite mesmo insana.

Uma coisa que reparei é que o Amigo do Piercing tem uma pele muito macia (não me perguntem como é que descobri isso...) e cheira muito bem. Perguntei qual é o seu perfume. "L'Odissey", disse-me ele.
Ok, o pessoal anda mesmo a gozar comigo ultimamente. Soldadinhos, heróis, obras épicas... Não vou desenvolver o assunto.

Ai, estou a sentir uma nostalgia... É o meu último dia de férias! Amanhã vou voltar àquela cidade, àquele meio, àquela gente; pegar no trabalho... Até desanimo. :o(
Haverá neste mundo de Deus coisa melhor do que as FÉRIAS?

Músicas para agora: "Summer Jam" by Underdog Project vs Sunclub / "Tarraxinha"... (sei lá é uma kizomba qualquer; só sei que é foleira à brava)

2/14/2004

Happy V-day, ev'ry1!

O tempo: lindo
Lu está: sentindo o Amor no ar

Dia de S. Valentim!
Confesso que é um santo do qual nunca fui muito devota. Não deixa de ser um dia engraçado.
Devia estar enterrada na minha depressão, a afogar a mágoa de não ter um namorado para partilhar este dia aos beijinhos e abraços em lágrimas e chocolates...
Mas não estou.
Estou até bastante bem-disposta.

A noite foi muito boa. Eu e a minha Amiga fomos para a disco sozinhas e lá encontrámos os nossos novos amigos que conhecemos na semana passada. Divertimo-nos imenso. Fogo, aquele gajinho dos olhos marotos é mesmo uma tentação! Ainda por cima tem um piercing na língua... tão giro!
Foi uma noite muito longa; voltei para casa só ao nascer do sol. Ainda assim não dormi muito. Levantei-me, arrumei a casa... mas por preguiça acabei por não ir treinar as minhas coreografias para o ginásio. Dediquei mais uma tarde ao ócio. Eu mereço, bolas!

Recebi, do Mickey Boy, um SMS tão fofo!
Não sou perfeito. Posso ser um tangas, posso não cumprir as datas, posso ser muito preguiçoso, não estar contigo, ter brancas no cabelo e até ter uma pronúncia "estranha"!! Mas sabes uma coisa? Lembrei-me de ti... Pareces-me a maior gatinha do planeta!!! beijinho Lu

Isn't this so clumsy? Isn't this like... sooo adorable? :o)

Bem, daqui a pouco vou sair... Vou ter com a minha Amiga... e com os nossos novos amigos... O serão promete! Ou não.


Música para agora: "Love Is In The Air" by John Paul Young

2/13/2004

Cruzes canhoto!

O tempo: está bom
Lu está: boa, como sempre e em todos os sentidos.

Pois é, mais uma Sexta-feira 13...
Não sei como há pessoas que fazem tanto alarido por causa do dia. Nem sei bem de onde terá nascido a superstição de que a sexta-feira 13 é dia de azar. Terá alguma relação com a Última Ceia (com 13 convivas, na noite de quinta para sexta, em que o JC foi capturado e condenado à morte?
Não sou supersticiosa - o que é incoerente com a minha profissão, visto que todas as pessoas ligadas ao Teatro o são - mas gosto de saber o fundo ideológico e cultural por trás das superstições.
Anyway, gosto da sexta-feira 13. Costumam ser dias que correm bem.
Hoje, por exemplo, tive um dia excelente.
Dormi a manhã inteira. Antes de sair para trabalhar, recebi a notícia de que afinal não precisava de ir hoje e nem sequer peguei no meu projecto, uma vez que o prazo de entrega foi alargado. Now how f*cking beautiful is this?
Para melhorar, só mesmo uma noite bem curtida na disco, para começar o dia de S. Valentim em grande. Ai espera... estou a falar do dia de S. Valentim, mas não tenho par! Ou será que tenho? Ou será que arranjo?... ;o)

músicas para agora: "Fora da Lei" - Ed Motta / "Teardrops" (Womack & Womack) - Hed Kandi version

OMG!

Lu está: espantada

Recebi um e-mail de um francês de 50 anos que viu uma foto minha num site e fez dela a sua desktop image nos últimos 2 meses. Now how sick is that?
Oh, my freaking gosh! This is like... so freaking scary!
(o anglicismo denota que estou MESMO admirada)

"Bye bye blackbird"

O tempo: sunny day, pretty night
Lu está: ociosa, nostálgica, saudosa, confusa, ansiosa... uma porrada de coisas

Ontem estive com ele.
O P.C. apareceu-me fresquinho e com um óptimo aspecto. Bolas, soube mesmo bem abraçá-lo de novo! Haverá coisa melhor que ter uma safira encostadinha ao meu peito?
Almocei com ele e com a amiga, uma rapariga muito simpática. Conversámos bastante sobre os mundos que o P.C. guarda no seu pensamento e os que ainda pretende percorrer. Tive momentos em que me perdi. Estava constantemente a pensar que os mundos que fazem os seus olhos brilhar são tão maiores do que o meu... E eu sou tão Pequenina (sim, em ambos os sentidos, bebé!) diante dele.

O tempo passou muito rápido e o dever chamava-me. Tive de ir trabalhar.
Ontem, tivémos aula de voz com um professor... bem, eu costumo encontrar adjectivos para tudo e todos, mas para esta personagem não encontro nenhum que lhe faça jus.
Estão a ver o Nuno Guerreiro, da Ala dos Namorados? Ok, a voz dele... coloquem-na num gajo com ar de alemão (tipo loiro, olhos azuis, mas giro) e bem mais simpático. É esse o meu professor.
Caramba, fez-me puxar pela voz como já não puxava há algum tempo. E perceber que por mais talento que tenha, ainda tenho de trabalhar imenso para ser uma artista de mão-cheia - para representar, cantar e dançar naquele palco - satisfeita com o meu próprio trabalho.
Estamos em fase de "desconstrução" e reconstrução, o que é uma carga de trabalhos, pois um bordão artístico é tão difícil de largar como outro vício qualquer.
Em compensação, há boas perspectivas. Mais espectáculos marcados, mais datas, mais sítios e públicos diferentes. Mais trabalho. É sempre bom; trabalhar naquilo de que gosto é tudo o que quero. Quase tudo...

Depois do ensaio, fui ter com o P.C. e os amigos. Jantámos e eu senti-me ainda mais deslocada. Eram todos muito simpáticos e hospitaleiros, mas já sabem como sou... ok, não sabem. Mas eu nunca me sinto facilmente integrada num grupo. Além do mais, pensei imenso na infinidade de pessoas e lugares a quem o P.C. pertence. Estar com ele, seja eu ou outro qualquer, significa sempre ter de partilhá-lo com outras pessoas, encolhermo-nos para dar espaço às suas asas, que são tão largas. Sim, sou um pouco possessiva em relação às pessoas de quem gosto. Mas é tão bonito vê-lo a falar dos seus voos. É tão bonito vê-lo voar! O mundo é muito pequeno para ele e eu sou muito pequena para o seu mundo. Ele tem necessidade de conhecer os mundos que lhe são alheios. Eu tenho medo até de abrir os olhos para observá-los.
Somos muito diferentes, nesse aspecto.
Mas também, há alguém neste mundo igual a mim?

O P.C. merece voar e ser tão grande quanto é. *frase estranha, mas faz muito sentido para mim*
Merece e precisa de estar com pássaros tão livres e tão sonhadores quanto ele. Pássaros que tenham asas de uma dimensão e de uma consistência semelhante à sua.
Não tem de ficar preso a aves raras, que embora tenham o encanto do exotismo, são demasiado frágeis e complicadas.

Ele vai-se embora muito em breve. E eu nem me despedi decentemente. Não disse as coisas que queria - devia - ter dito.
Pensei antes nas coisas que tinha para fazer e que me prendem à minha vida pequenina e corri.
Mais tarde, senti um grande aperto, cá dentro. Pensar que ele vai passar largos meses onde a terra tem outro cheiro e o sol tem outra côr deu-me a sensação de que a separação era definitiva.
A minha saudade não aumenta tanto com o tempo quanto aumenta com a distância. Acho que é a distância que me faz pensar assim, talvez sem fundamento nenhum.

Olhei para a fotografia que ele me deu, que está fofa como só ele sabe ser. Um beijo perpetuado em papel, a evidenciar aqueles lábios salientes e engraçadíssimos.
Li, mais uma vez, a sua dedicatória que escreveu nas costas da foto:
Por mais voltas que o mundo dê, por mais lugares e tempos que nos apanhem por aí, os meus lábios estarão sempre presentes, para te dar um beijo eterno. Gosto muito de ti, minha Pequenina. P.C.
Porque é que me custa acreditar nisto?

Estava, há pouco, a ler o comentário que ele fez ao post que lhe dediquei.
Já tens saudades antes de ele partir, não é? - dizia-me uma colega hoje.
É isso. Tenho saudades de uma pessoa que ainda não partiu. E atrevo-me a cair no cliché de dizer que tenho saudades do que nunca tive.

Obrigada pelo teu amor, P.C.. Faz-me um bem que não imaginas e faz-me sentir mesmo especial. Quase tanto quanto tu és.
Vai, corre para o teu sonho como eu corri para aquele comboio - que apanhei! - e sê muito, muito feliz, passarinho.

Pus a tua foto no meu placard. Já não está tão vazio. Tem umas asas tão grandes que quase não deixam espaço para mais.


Música para agora: "Bye bye blackbird" (Henderson), performed by Miles Davis

2/11/2004

Crianças...

Sabem aquelas pessoas que tapam os ouvidos e os olhos às evidências?
Quando as evidências as incomodam...
As colocam na berlinda...
As fragilizam...
Expõem...
E mostram os seus erros?

Tipo as crianças, quando dizemos que foram mázinhas porque fizeram isto ou aquilo... "Lá, lá, lá, não estou a ouvir nada, não vês que tenho os ouvidos tapados? Cala-te!"

E depois ainda inventam uma nuvem de sonho só para dizerem que estão bem. "Eu tenho um carro mais maior grande do que o teu; toma, toma!" :-P

Irritante, não é? É que nem quando o assunto não é uma repreensão, mas um mero facto a título de curiosidade elas nos querem escutar... Cantam a sua cantiga dissonante a altos berros para abafar o que não querem ver ou ouvir...
Há pessoas dessas que são adultas. Mas precisam de crescer tanto!

Ao Aquiles (o mau) e à sua amiguinha com quem falei, votos de felicidade. Ainda que não namorem.... :o)
Gostava de lhe dizer isto, mas ele só canta, só tapa os ouvidos...

2/10/2004

AMIGO

Lu está: ansiosa

Amanhã, o meu Porta-Chaves de pelúcia vem visitar-me! Vamos passar o dia juntos, matar saudades, pôr a conversa em dia... e aproveitar para nos despedirmos. Em breve, ele irá trabalhar fora do País e lá ficará durante largos meses.
É estranho. Raramente posso vê-lo, muitos quilómetros e duas vidas complicadas criam uma grande distância entre nós, mas parece sempre que é atenuada porque podemos sempre pegar num telefone e dizer "olá", ou ter um surto de loucura e apanhar o primeiro comboio para daí a algumas horas estarmos juntos. Quase nunca acontece, mas a existência dessa possibilidade faz parecer que não estamos assim tão longe.
Daqui a pouco tempo, ele estará muito longe. E não sei se vou poder pegar no telemóvel a qualquer hora para lhe mandar uma mensagem a dizer tão somente "Estou aqui!". Não vou poder passar duas horas a contar-lhe as minhas misérias ao telefone. Nem vou planear passeios no parque, para corrermos atrás dos patos, como loucos... Ele vai estar a perseguir a sua felicidade. Longe. Longe de mim.
Estou numa fase em que quero dedicar muito tempo aos meus amigos. Aqueles que gostam verdadeiramente de mim, aqueles cuja presença vale a pena prever em cada momento da minha vida. O P.C. é uma dessas pessoas.
Caiu na minha vida aos trambolhões (para falar verdade, até nem estava assim tão bêbado) e foi ficando. E foi tão bom... É tão bom. Não quero que desapareça nunca. Ele é uma jóia entre as poucas que conservo nesta caixa - que não sei se é muito digna da sua preciosidade - que é o meu coração.

Bem, o que me alegra é que amanhã vou estar com ele. Vamos conversar, rir, quem sabe até chorar (não duvido nada; se choro por caracóis, devo chorar por ele)... E vai ser muito bom.

Ai, que bem que sabe a palavra AMIGO! Mais do que o doce sabor de mel na boca e o toque suave de pétalas de rosa , mais do que uma infinidade de coisas...
Sabe tão bem ter um amigo!

M*rda!

Pisei.
Pisei outra vez.

Acho que pisei outro caracol.

Estava a caminhar com pressa, ia para o estúdio de Dança e ia trabalhar.
Senti, sob o pé a mesma sensação estranha de pisar algo estaladiço e logo a seguir mole. Ouvi o mesmo ruído semelhante ao de batatas fritas de pacote a desfazerem-se entre os dentes.
Não me deu fome.
Não parei para ver e continuei a andar, cada vez mais depressa.
Desta vez não parei para ver nem para pensar; continuei, segui caminho.
Desta vez não pensei na morte.

Pensei na vida.

Pensei na minha vida. Pensei que ela estava diante de mim, à minha espera. Ou melhor, que ela não espera por mim; segue como um rio e se eu não acompanhar o seu passo, perco-me. Então acelerei o meu passo.
Não fiquei a pensar em coisas pequenas, lentas, mortas... como aquele caracol, que nem sei bem se pisei ou não.

Só pensei que o tempo urge e que tenho uma vida para viver, custe quantos caracóis custar.

Pronto...

Lu está: a precisar de fotos e poemas

Tirei.
Tirei tudo das paredes. Os poemas, as fotos...
Tirei.
Deixei só um acróstico que ele fez com o meu nome, no meio do nicho reservado a coisas relativas à minha graça. Sim, admito, sou um pouco narcisista, sou! Gosto muito do meu nome. E depois? A parede é minha, ponho nela o que quero! :oP

Parei, durante uns segundos, a observar uma das fotos que arranquei do placard...
Bolas...
Um rapaz tão bonito! É um desperdício que seja tão mau.
Depois... bem, o que fiz com aquela traquitana toda não vou contar. Os meus feitiços são privados. =)

De repente, o placard pareceu-me tão vazio...
Preciso de preenchê-lo com algo.
Com alguém.
Onde andará?

Por mais benefícios que o fim de uma relação nos traga, não deixa de ser um pouco frustrante. Dá uma sensação de perda, de falha, de fracasso... Mesmo que não seja bem esse o caso.
E acho que nunca me vou esquecer daquele sorriso e daqueles olhos côr de avelã ao som de Sade, sob um céu a cobrir-se de estrelas, dominando a paisagem serrana.

Não há mais nada a escrever sobre isto e mesmo que queira, não consigo. Há um inergumene qualquer lá fora a ouvir o CD do Batatoon, o que me desconcentra e enerva solenemente.

Recordações...

O tempo: sol... acho eu... ainda não me dei ao trabalho de ir ver
Lu está: esquecida

Reparei, quando acordei...
... que ainda não tirei das paredes os poemas, acrósticos e fotos do Aquiles (o mau).
Saiu da minha vida, mas ainda não saiu do meu quarto.
Não sei porque me esqueci de arrancar aquelas coisas.
Acho que estava tão habituada a tê-las por lá, que já faziam parte do quarto. Acho que até deixei de reparar nelas, como quem deixa de reparar que as rugas das pessoas que vivem connosco são cada vez mais pronunciadas ou que as nossas crianças crescem de dia para dia.
Que estranho...
Esqueci-me.
Esqueci-me.

Vou tirá-las agora.

2/09/2004

A vida é gozona!

Lu está: a rogar pragas às anedotas da vida

Quem leu uma boa parte das minhas postas deve estar a par de uma relação com um semi-deus (ou deverei dizer pseudo-herói?) recentemente terminada...
Devem ter percebido que o seu herói favorito é o guerreiro Aquiles.
Mais do que isso, ele assume-se como um Aquiles contemporâneo e adoptou o seu nome como nick name.
Este Aquiles é fã dos Manowar, uma banda cujas letras, que descrevem passagens da história e da mitologia clássica, ele está sempre a cantar.
Adora carros. Dá um valor imenso a um bom carro. (Aliás, creio que dá a qualquer carro muito mais valor do que alguma vez deu à minha pessoa)

Embora o queira esquecer, a vida parece estar a gozar comigo e apresenta-me situações irónicas que só me fazem lembrar esta pessoa.

Ontem recebi um e-mail do Diogo, que me deu o seu contacto do Messenger.
Julguei ser uma piada de mau gosto... achillestheone@...
Ainda assim, adicionei-o à minha lista.
Hoje, falei com ele e li o seu último post.
Fiquei atónita.
O Diogo vive na mesma cidade que o meu semi-deus.
Tem sensivelmente a mesma idade.
A mesma paixão pela mesma banda.
Pela mesma história.
Gosta muito de carros.
Mas parece ter muito melhor carácter.
Johnny? Disseste que o teu amigo se chama Johnny?
Esse é o nome pelo qual eu tratava o outro Achilles. Johnny Bear...
Não é o mesmo.

Mas que a vida a gozar com a minha cara, anda.
Então, qual é a próxima coincidência que me reservas?

Buns & boots

O tempo: nuvens, nuvens... 12º neste momento
Lu está: orgulhosa do seu rabiosque

Girls...
Já alguma vez tiveram a sensação de que um rabiosque firme e engraçado, sobre uns saltos altos e dentro de umas calças justas inflaciona bastante o juízo que fazem do vosso trabalho? Principalmente quando o "juíz" é um homem?
Eu, pelo menos, já.
Ainda hoje tive essa sensação.
É preciso cá um descaramento...
Depois de atravessar uma sala para falar com o Sr. X e fazer o caminho inverso (sentindo um olhar pesado sobre mim) para pegar nas minhas coisas e sair da referida sala, o safado chamou-me, obrigando-me a atravessar novamente a sala, para dizer uma coisa absolutamente irrelevante... Obviamente, lá teve outra oportunidade de me observar a caminhar de novo em direcção aos meus haveres. E quando olhei de soslaio é que reparei onde é que o sacaninha tinha os olhos postos. E como sorria...

Eu sei que tenho um rabo giro, mas o que vai aqui dentro (da minha cabeça, leia-se) é bem mais interessante! Ou será que não?

2/08/2004

100

O tempo: friiiio
Lu está: com frio, ora!

Tinha de assinalar isto...
Uma centena de visitas.
Afinal, há mais deprimidos crónicos por essa blogosfera. E até vêm ler o meu cantinho.

Descobri que...

... tenho sido uma tonta até agora.

Porque pensava que os Pupilos do Exército eram os que estudavam no Colégio Militar. Militar... Militar é do Exército... quem estuda no Colégio Militar é um Pupilo do Exército. Afinal, não tem nada a ver.

Para mim, continuam a ser a mesma coisa. Meninos robotizados, privados de uma infância normal, ensinados a esconder as suas fraquezas, como se não as tivessem, a ser capazes de dar a vida pela pátria.

O que é que a pátria fez por ti?

E O QUE É QUE EU FIZ POR TI? Foi muito mais, lembras-te?


música para agora: "Pátria Que Me Pariu" - Gabriel o Pensador

Luxúrias solitárias

Lu está: inspirada

Hoje, depois de fazer mais uma entrevista para o meu projecto, fui para o ginásio treinar umas coreografias. Sozinha.
Rasgar o espaço com o meu corpo e os meus movimentos, deixar-me envolver pela música como se de um amante se tratasse, falar sem sequer fazer ouvir a minha voz... mas dizer tanto... tanto...

É uma sensação de libertação, orgásmica, única.

Desculpem, mas tenho com a Dança uma relação tão íntima que não posso deixar de parecer indecente quando falo nela.

Night Life

O tempo: nem parei para observar isso
Lu está: cheia de vida

Ontem saí.
Fui à discoteca com os meus amigos, como tem sido hábito nas últimas semanas e mais uma vez foi muito bom esquecer-me da minha perturbação bipolar por umas horas.
Sempre fui uma pessoa muito caseira e pouco dada a saídas. Porém, quando se arranja a companhia certa, i.e., pessoas de confiança (conduzem bem, não cometem excessos) e com quem me dou muito bem (o que é difícil), não posso deixar de ceder à tentação de me produzir um pouco mais do que o habitual e passar a noite a dançar.

Era um grupo bem grande, mas para começar a noite numa dimensão ainda maior, um dos nossos companheiros - logo um dos melhores - foi barrado à entrada. Mesmo a calhar, a ex-namorada dele, ou pelo menos namorada que estava bastante chateada com ele, decidiu não entrar connosco e foi com ele para o carro, pois precisavam muito de conversar a sós. Lá ficaram entretidos noite toda... a conversar, garanto.

Ora, nós fomos à tal discoteca de propósito para encontrar o homem que uma das minhas amigas anda a galar há duas semanas. Não o conhece de lado nenhum, nem sabe o nome dele, nunca trocou sequer uma palavra com ele, mas desde que o viu ficou encantada pelos sinais de nascença que tem no rosto e os seus olhos côr de avelã muito brilhantes e expressivos - é verdade, eu estive sempre lá para testemunhar, ele tem uns olhos muito bonitos. Ai, ai, como eu adoro olhos côr de avelã... Doces lembranças...

Houve muita troca de olhares, muita dança sensual, muito sorrisinho, muitas insinuações, mas nem chegaram falar um com o outro, não perguntaram o nome, não trocaram nºs de telemóvel... Dumbasses! Eu só não a ajudei, porque de cada vez que me aproximava para lhe perguntar o nome, tinha vontade de rir. Acho o jogo dos recadinhos um tanto infantilóide... se bem que às vezes é tão mais cómodo!

Bem, tudo isto para dizer que o gajo não apareceu esta semana. Que desilusão. A minha amiga estava mesmo a fim dele. E ele dela. Tem ar de ser bom homem. Só que são ambos muito tímidos.


Em compensação, arrasámos, como sempre.
Regra geral, a meio da noite estamos rodeadas de gaviões, o que me lisongeia um pouco, mas deixa muito mais incomodada. Já não se pode dançar em paz, porque está um gajo à minha frente a olhar-me de alto a baixo, tipo a avaliar; à minha esquerda está um a fazer a dança do pavão para se mostrar; atrás de mim, outro a tentar agarrar-me a cintura e à minha direita dois fulanos com mau aspecto (tal como os outros todos) a fazer o papel de juízes dos meus passos. Se há coisa que detesto é um gajo feio e desesperadamente com falta de pito numa discoteca. E cotas sozinhos e frustrados com a mania de que são jovens garanhões. Que vão à discoteca é como o outro, mas não precisam de se armar em teenagers.

Ontem estavam lá muitos gajos feios.
E o pior é que sorriam para mim. Que nojo!
Há pessoas tão feias que deviam pagar multa. Ontem, a BAF (Brigada Anti-Feiura) podia ter feito umas boas massas só em multas. E eu, como até posso cometer a imodéstia de dizer que sou um pitéu de gaja e além disso, não danço nada mal, tenho tudo a babar para mim. Feios, gordos, carecas, novos, velhos, estilosos, pirosos, pretos, brancos...

Uma boa tática que eu e uma das minhas amigas arranjámos para dançarmos à vontade é fazer a Dança da Sapata, ou seja, dançamos juntas como se fôssemos mesmo muito íntimas... tipo fufas (mas sem exageros, que eu não quero cá misturas!). É verdade que eles ficam ainda mais excitados, mas pelo menos não nos tocam, nem vêm com paleios da treta. E nós duas divertimo-nos muito!


Mas regra geral, gosto de observar a vida que pulsa dentro das discotecas.
Eu sou do tipo que vai para o meio da pista e fica a rodopiar, olhando para todos os lados. Gosto de observar as dezenas ou centenas de histórias que acontecem simultaneamente num pequeno espaço fechado e de apreender tantas quanto a minha visão permite.
- As betas agarradas às suas pochettes e à sua vodka laranja, que ficam paradas a observar o movimento, porque
a) acham-se superiores àquela chusma
b) acham-se tão boas, que esperam que algum gajo vá ter com elas
c) querem ficar paradas para se poder ler nas suas vestes os CCs (falsificados) da Channel
d) porque não conseguem dançar em cima das suas botas de salto-agulha (by the way, eu consigo e bem!)
ou e) porque simplesmente não sabem dançar
- Os tais gajos feios e sem companhia que cirandam de gaja em gaja, até que alguma aceite a sua corte
- Os que ficam sobre os degraus a balouçar para um lado e para o outro como árvores ao vento, a observar o movimento da pista
- As raparigas que passam o tempo todo sobre a coluna, agarradas ao ferro, que lhes dá um aspecto um pouco vulgar
- Os que passam o tempo todo encostados ao bar, a beber
- As inúmeras "curtes", que acontecem depois de dois segundos de roça-não-roça...

É um grande filme que se desenrola a um ritmo alucinante.


Ora ontem, para variar, até havia um moço engraçadinho a galar-me.
Baixo, magro, mas bem constituído, olhos vivazes, com estilo, sabia dançar, ar de puto reguila, um sorriso malandro mas adorável... Um amor de gajinho. Já tinha reparado nele na semana passada, pois ele estava de olho em mim. Também tem cá um ar de safadinho...
Esta semana meteu-se comigo:
- Se alguém disser que te mexes mal... Meu Deus!
- Acho que posso dizer o mesmo de ti... - sussurrei-lhe ao ouvido.

Continuámos a dançar, perto um do outro e os nossos amigos, à nossa volta, achavam muita piada à troca de olhares e à conversa marota que se desenrolou.
- Não sei o que hei de fazer contigo.
- Queres que te dê ideias?
...

Adoro o jogo da sedução. É tão divertido. Gosto de realçar os meus dotes, usar da minha ironia e do meu sentido de humor para atrair (ah pois, Os Homens Não Prestam, mas as mulheres também não; podem ser fiéis, mas não ficam cegas nem parvas)... e depois dar tampa. Pode parecer cruel, mas eu simplesmente não sou do tipo de engates na discoteca, "curtes" e afins. Além do mais, neste momento não estou disponível para ninguém (pois, pois, Lu, finge que acreditas nisso...).

A corte durou a noite toda. Fiquei a saber o nome dele, ele ficou a saber o meu. Por coincidência, ele vive muito perto de mim e - imagine-se! - estudou nos Pupilos do Exército. Eu tenho cá uma pontaria para soldadinhos...
O moço revelou-se muito simpático e esperto. Não sei porque não lhe dei o meu contacto, nem pedi o dele para combinarmos um chá. Mas prometi voltar na próxima semana; como ele é um habitué, voltamos a ver-nos.
Falámos durante algum tempo, quando saímos e por causa disso cheguei a casa muito tarde...
Ou será melhor dizer muito cedo? Era cedo para me levantar, mas já estava muita gente a apanhar transportes para ir trabalhar. Até me sinto mal, só de pensar nisso.
Chegar a casa de manhã é quase obsceno; parece fazer pouco das pessoas a quem a vida custa a ganhar.

Afinal, a minha freguesia não é tão pequena quanto parece. Ainda se encontram vizinhos com quem vale a pena conversar... ou não.

2/06/2004

O amor é divino...

O tempo: já escureceu, noite amena
Lu está: ainda a cantar

Uma música que já ouvi umas 50 vezes hoje é do Seal. Gotta love that man... Aquela voz tem um céu dentro de si.
Adoro esta canção. Para quem ainda não ouviu (acho difícil que não), recomendo vivamente, bem como as outras duas cujas letras publiquei.
Aqui fica a letra desta, que neste momento apela de modo especial aos meus sentimentos:

Love's divine
Then the rainstorm came over me
And I felt my spirit break
I had lost all of my belief you see
And realized my mistake
But time threw a prayer to me
And all around me became still

I need love, love's divine
Please forgive me now I see that I've been blind
Give me love, love is what I need to help me know my name

Through the rainstorm came sanctuary
And I felt my spirit fly
I had found all of my reality
I realize what it takes

'Cause I need love, love's divine
Please forgive me now I see that I've been blind
Give me love, loves is what I need to help me know my name

Oh I don't bend [don't bend], don't break [don't break]
Show me how to live and promise me you won't forsake
'Cause love can help me know my name

Well I try to say there's nothing wrong
But inside I felt me lying all alone
But the message here was plain to see
Believe me… (Esta parte é brutal... onde é que eu já vi isto?)

'Cause I need love, love's divine
Please forgive me now I see that I've been blind
Give me love, love is what I need to help me know my name

Oh don't bend [don't bend], don't break [don't break]
Show me how to live and promise me you won't forsake
'Cause love can help me know my name

Love can help me know my name.


O dever chama-me de novo. Mais umas entrevistas e depois vou sair com as minhas amigas para espairecer. Já sabem onde encontrar-nos. Ou não...

Procura-se: coração novo

Lu está: à procura de um coração novo.

Fragmento de uma conversa que tive esta tarde no Messenger, com uma Amiga:

Amiga: fdx
Amiga: pork temos o dom d estragar o q é ou era perfeito?
Amiga: pk?
Lu: pq somos imperfeitos
Amiga: pk ñ fazemos o k tá + correcto?
Amiga: pk a minha cabeça ñ controla o meu coração?
Lu: pq o coração é quem manda
Amiga: mesmo sabendo k tamos errados
Amiga: fdx
Amiga: merda de coração
Amiga: kero outro...
Amiga: + frio
Lu: + frio?
Lu: olha, eu queria um mais quente
Lu: um mais capaz de compreender, de ouvir, de perdoar
Lu: o coração mais quente vê melhor
Lu: vê mais longe
Lu: vê além dos defeitos e dos obstáculos...
Amiga: já nem sei d nada
Lu: pois, eu acho que também não...
Lu: (smiley pensativo)

Alguma alma compatível disposta a fazer o transplante?

o Adeus

O tempo: Sol, 15º neste momento
Lu está: frustrada

Pior do que terminar uma relação onde sentimos que podemos dar, receber e fazer muito mais... é terminá-la sem que sejam esclarecidos os motivos para o seu fim.

Ele agora deve estar a pensar coisas erradas sobre mim (e não só). Não me deu oportunidade de falar sobre isso. Eu, putativamente (heh, adoro esse advérbio), também estou a pensar coisas erradas sobre ele. Não lhe dei oporttunidade de falar sobre isso.
Não conversámos, não pusémos as coisas em pratos limpos (ai, nem quero pensar em pratos, que me lembro da minha mãe...) e isso é que me enerva.

Quando estas coisas acontecem, não vos dá um sentimento de impotência? De inquietação? De frustração? A mim dá.

"A conversar é que a gente se entende"

Pois é, nada mais verdadeiro do que isto. Será que algum dia poderemos conversar sem medos nenhuns? Será que vamos ambos ficar para sempre na dúvida e presos a ideias erróneas?

Mais forte do que um Adeus é um Adeus que não deixa dúvidas nenhumas para trás. Esse tipo de Adeus é que o melhor que podemos dar. Gostava de lhe dar um desses...


O dever chama-me.

Já agora...

... uma pequena posta que encontrei e que me tirou as palavras da boca:

Os Homens Não Prestam


Ah, pois não... mas quem sabe viver sem eles?
Diogo, não fosse o meu coração possuído por um feiticeiro cruel, casava-me contigo, só por causa dessa posta.

Since I fell 4 u...

O tempo: névoa lá fora e na minha cabeça, 12º
Lu está: a cantar

Continuo envolvida na minha crisálida feita de um jazzy/blue mood. Será que vai sair daqui uma borboleta?

Eis aqui outra canção da doce (nem tanto) Dinah que acordei a cantar. Speaks for itself:

Since I fell for you

You made me leave my happy hoe
You took my love and now you’re gone
Since I fell for you
Love brings such misery and pain
I guess I’ll never be the same
Since I fell for you
(Oh), it’s too bad, (oh), its so (too) sad
That I’m in love with you
You love me, then you snub me
But what can I do
I’m still in love with you
(Oh), I guess I’ll never see the light
I get the blues ‘bout every night
Since I fell for you
(Well), it’s too bad, oh, it’s so sad
That I’m in love with you
Oh, you love me, then you snub me
Oh, but what can I do
I’m still in love with you
Oh, I guess I’ll never see the light
I get the blues ‘bout every night
Since I fell for you
(Since I fell for you)

2/05/2004

"A noite dos meninos da Luz"

Vi, há pouco, uma reportagem sobre as praxes e actos de violência que acontecem no Colégio Militar. Os novos pupilos são agredidos, gozados e humilhados, num ritual chamado "A Mocada", que se repete todos os anos para celebrar o 1º de Dezembro de 1640 (quando Portugal recuperou a soberania aos Filipes de Espanha, para quem não sabe). Além disso, sofrem maus tratos durante a noite, quando ninguém vê.
São obrigados a guardar silêncio, a esconder as verdadeiras causas dos arranhões e hematomas que levam para casa.
Há quem diga que os abusos são casos pontuais e que lá não há nada de violência continuada.
Há quem diga que aquilo é mesmo um inferno para os meninos e por isso desiste.

Eu sempre tive do Colégio Militar uma imagem de uma infância perdida, sem a liberdade para as brincadeiras a que os outros, cá fora, se dedicam e de um distanciamento da família - a base primordial da educação. Mas além disso só imaginava disciplina e rigor. Nada de selvajarias e desordens. Não sabia que os oficiais permitiam aquela rebaldaria toda.

Eu conheço bem - ou melhor, julgava que conhecia - uma pessoa que lá estudou. Mas nunca me contou nada disso, quando falava do Colégio. Afinal, quantas coisas é que ele não me contou?
Tenho a sensação de que tive um relacionamento com um completo desconhecido.
Se fossem só os episódios na época do Colégio Militar, não seria nada de especial.
Mas há muitas e mais importantes coisas que se mantiveram um mistério...

Eu sempre me senti atraída pelo desconhecido. E assim continuo.

Mad about the boy...

O tempo: Sol, calor... 17º neste momento
Lu está: mais esticadinha...

Hoje fizémos exercícios de flexibilidade na Dança. Não os fazíamos há canos. Eu calhei a empurrar as pernas de uma das raparigas novas e justamente a mais pesada da classe. A Lupe (Guadalupe) tem para aí o triplo do meu peso e tamanho, umas pernas massivas e alguma dificuldade em mexer-se. Mas lá fez os exercíos.
Quando chegou a minha vez, dei as minhas gargalhadas da praxe. Aquilo dói que se farta, mas eu devo ser a única pessoa neste mundo de Deus que reage à dor com o riso. Sim, estar deitada com alguém a tentar fazer o meu joelho tocar-me no peito; a afastar as minhas pernas e empurrá-las para baixo é muito doloroso. Mas é uma dor tão aprazível... Dá uma sensação tão boa, no fim, sentir-me grande e esticadinha... (Aviso já que não tenho nada a ver com grupos de BDSM... e NÃO SOU UMA NINFETTE)

Passei o dia todo com uma música da Dinah Washington na cabeça. A letra diz quase tudo o que sinto neste momento...

Mad About the Boy
Ray Noble (sim, era um homem e escreveu esta letra dedicada a outro homem... o gajo era panasca)

Mad about the boy,
And I know it’s stupid to be mad about the boy,
I’m so ashamed of it, but must admit
The sleepless nights I’ve had about the boy.
On the silver screen,
He melts my foolish heart in every single scene,
Although I’m quite aware that here and there,
Are traces of a cad about the boy.
Lord knows I’m not a fool girl,
I really shouldn’t care.
Lord knows I’m not a schoolgirl,
Who’s In the flurry of her first affair.
Will it ever cloy?
This odd diversity of misery and joy.
I’m feeling quite insane and young again
And all because I’m mad about the boy.

Well, nuff said...

Sabem que mais? A paixão não é cega. A paixão é capaz de ver muito bem. Simplesmente, está-se "a cagar" para as coisas que vê, por piores que sejam.

Não resisti...

... a uma piadinha do bafo.

Diz o sábio povo que "Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo".
...
Eu apanhei os dois ao mesmo tempo, porque este mentiroso era como um frasco de Head and Shoulders (2 em 1).


Para quem percebeu - eu sei que foram poucas pessoas - desculpem, mas não resisti mesmo a fazer um comentário podre.

Dreaming of you...

Na noite passada, sonhei imenso.
Sonho todas as noites, como todo o indivíduo, mas esta noite sonhei imenso.
Tive diversos sonhos, onde entraram diversas pessoas.

Sonhei com vários familiares e amigos. As histórias e situações eram difusas e sucederam-se a um ritmo tão alucinante que não consigo recordar-me de nenhuma.
Lembro-me de que sonhei com eles.
E acordei com flashes dos seus rostos nos meus olhos.

Fiquei a pensar.

Quando isto acontece - sonhar com familiares ou amigos que não vejo há algum tempo - é geralmente sinal de que é altura de contactá-los, porque eles (ou eu) estão a precisar desse contacto.

O problema agora é saber se me apetece esse contacto...

2/04/2004

Os benefícios do trabalho

O trabalho faz um bem enorme às pessoas.
Eu não gosto nada de trabalhar; sou uma preguiçosa incorrigível, mas quando tenho de fazer, faço. E depois de fazer, sinto-me melhor.
O trabalho faz-me mesmo bem ao espírito.
Organiza-me as ideias, ameniza os meus pensamentos... E eles não têm sido nada amenos...
Ainda bem que hoje trabalhei.

Depois de usar o poder da palavra para ferir uma certa pessoa, depois de ter escrito um rol de pontos negativos sobre ela, pus-me a pensar: "Então porque raio passaste tanto tempo com essa pessoa?"
Pela mente, num ritmo veloz, passaram-me as coisas que disse com a cabeça quente e o espírito ferido. Acho que há coisas que não era necessário ter dito. Faltou imenso termos uma séria conversa.

Depois quedei-me com mais calma sobre algumas recordações...

Sim, esta pessoa fez-me muito mal, mas não posso negar que me proporcionou bons momentos.
Lembro-me do seu cabelo de ébano...
Dos seus olhos quentes e doces, capazes de encantar a mais gélida das feiticeiras...
Das suas mãos largas e calorosas, capazes de envolver todo um corpo num só gesto...
As suas massagens... divinas!
Do seu sorriso - apenas o primeiro que vi na sua face - que transfigurava completamente todo o seu ser...
E aquelas covinhas, adoráveis! - mais pronunciada a direita do que a esquerda...
Das suas carícias, nos dias em que estava mais terno e inspirado...
Das suas divagações filosóficas, que sempre me questionei de onde surgiam, mas que me divertiam sempre...
Lembro-me das discussões absurdas que tínhamos sobre assuntos completamente descabidos... que minutos mais tarde nos faziam rir e unir os nossos lábios num beijo...
Os seus beijos... Ele beija tão bem!
E de como usava e abusava da palavra "índole", não sei porque razão...
Lembro-me da sua barba a roçar-me o rosto, num delicioso incómodo...
Lembro-me de nós dois, a observar o cair da noite, a ouvir o som apelativo e sensual de Sade (nunca mais vou ouvir as suas músicas da mesma maneira com outra pessoa).
Lembro-me de, depois do amor, ficar encostada ao seu coração, a ouvir o seu pulsar e interrogar-me se a minha imagem estava presente nos seus sonhos...
Lembro-me das suas palavras de elogio - que afinal não eram inéditas nem exclusivas - sobre a minha beleza, a minha inteligência, a minha sensibilidade...

Pergunto-me se ele gostou tanto quanto eu desses momentos, que me pareciam tão agradáveis para ambos. Questiono-me se, mesmo usando-me, ele nunca sentiu momentos de felicidade plena ao meu lado. E será que ele lamenta tanto quanto eu que tudo isso tenha deixado de existir? Será que alguma vez ele viu em mim o valor que outras podem ter para ele? Será que algum dia poderei saber?
É uma pena que isso se tenha perdido porque os seus defeitos abafaram as suas virtudes.
É uma pena que a minha confiança tenha ficado tão ferida.
Será que algum dia poderei curá-la?

Uma coisa que constatei hoje é que, quando damos muito a uma pessoa e, por um motivo ou outro nos separamos dela, ficamos, durante um tempo, incapacitados de nos ligarmos a outra. Porque o que tínhamos a dar já está com a pessoa que deixámos; ficamos desprovidos de dádivas para mais alguém. Leva o seu tempo até que renovemos o stock de dádivas para essa ou outra pessoa. Leva o seu tempo até suturar todas as feridas. Às vezes o grande problema das reconciliações falhadas é não terem tido o seu tempo de amadurecimento... Às vezes...

Até é bom esperar.

Imaginem...

O tempo: luminoso e quentinho
Lu está: preguiçosa

Imaginem uma pessoa extremamente egocêntrica, egoísta...
Uma pessoa altiva e cheia de soberba...
Que se acha melhor do que tudo e todos...
Que despreza tudo o que seja exterior ao seu mundo de luxos e caprichos...
Que se refere a seres humanos - seus semelhantes! - como criaturas indignas e inferiores...
Que se vangloria das coisas que possui, que pode e que quer possuir...
Que só dá valor a posses e aparências...
Que se preocupa em alimentar o seu enorme ego...
Mas nunca em fomentar um pouco o enaltecimento do ego dos outros - os que lhe querem bem...
Que dá uma enorme importância ao status das pessoas e aos vis prazeres que pode retirar delas...
Mas importância nenhuma ao que de melhor essas pessoas podem oferecer, como bom carácter, carinho, respeito, fidelidade, partilha...
Uma pessoa que se considera muito madura e independente...
Mas que na verdade é emocionalmente imatura e egoísta; que está completamente presa aos seus caprichos e preconceitos...
Uma pessoa que proclama ser "leal e honesta"...
Mas que na verdade é das pessoas mais levianas que há e que vive - e faz os outros viver - uma grande mentira.

Imaginem...

Imaginem agora que têm uma relação com essa pessoa. Conseguiam?

Seria demais, não é?

Foi demais, para mim. Talvez por isso me sinta bem com o termo de uma relação... SIM, PORQUE EU TIVE UMA RELAÇÃO COM UMA PESSOA ASSIM.
Até hoje, não percebi bem porque é que fiquei naquele estado de torpor desporvido de lágrimas, de expressão, de grito... Eu acreditava que o desalento me iria consumir, mais uma vez. Essa pessoa disse-me que eu iria chorar muito por causa do fim e eu não respondi, porque concordava.
Mas não chorei. Não choro. Não desta vez.

Desta vez foi por minha vontade e desta vez sabia ao certo a razão para o fim anunciado.
Já tinha sido anunciado, na minha mente, há muito tempo.
Estou satisfeita, aliviada.

Se para alguma coisa serviram os desgostos e as agruras por que passei ao longo da minha vida, foi para me abrir os olhos e fortalecer. Foi para me ensinar a não deixar NENHUMA ferida causada por outros sem o devido troco.

O meu troco está dado. Estou livre.

É agora altura de encher o ritão de vinho doce e de mel, de erguê-lo bem alto, de bradar de contentamento e brindar à Vitóra. Muito boa moça, a Vitória...

Resta-me só um ligeiro sentimento de pena daquela pessoa que deixei. Pena, porque é um desperdício deixar alguém aparentemente tão perfeito (acreditem, que superficialmente parece ser) e cheio de potencialidades (essas sim, tem) assim, em bruto. Precisava de alguém que o fizesse desabrochar. Eu quis e podia ser essa pessoa, mas não podemos obrigar ninguém a nada...
Espero que ele encontre essa chuva renovadora a seu tempo. E que possa ser feliz com a mudança.

A minha vida dava um filme II

O tempo: Não podia estar melhor, mais acolhedor...
Lu está: "cheia de vida", como diria o Mickey Boy

Depois de almoçar, saí de casa
e fui à estação de correios enviar um postal animado para o meu "Porta-Chaves de Pelúcia". O postal é bem giro, por sinal; tem confetis escondidos num reservatório que os fará saltar para fora quando for aberto. Só que estive prestes a destruí-lo (de trapalhice e de raiva) na noite passada. Não sei como, soltei o elástico que faz explodir os confetis; metade deles saltou-me para cima da cama e eu passei himalaias de tempo a catá-los todos, reinseri-los no reservatório e voltar a prender o elástico - esta última parte foi a mais complicada. O que não se faz numa noite de insónia... Haja paciência!

Ora, o meu Porta-Chaves de Pelúcia está prestes a completar ?? primaveras e é com muito pena que não posso estar com ele. O P.C. é um daqueles que deixei um pouco de parte porque... enfim, não me interessa falar sobre isto agora. Nunca deixou de ser uma pessoa muito especial na minha vida e estou certa de que nunca sairá dela. Pergunto-me se ele ainda estará à minha espera, já que não tenho coragem de lhe perguntar a ele. Será? Será ele assim tão paciente? E será que eu mereço tal paciência?


Ora nesta quinzena, em todas as estações dos CTT...
uma empresa supostamente vocacionada para serviços de cariz postal, mas que está a ser cada vez mais prostituída para outros fins - de brincos a t-shirts, de telemóveis a canecas - o marketing do fatídico dia de S. Valentim ataca implacavelmente.
Apresenta-se um sobrescrito sobre o balcão e, antes mesmo de dizer "boa tarde", já está a moça a impingir-nos, com o sorriso mais amarelo à face da Terra (não sabes o que é Colgate Sensation?) um estúpido cartão cheio de corações e animais pirosos: "Já comprou um postal para o seu namorado? Temos uns muito bonit...".
Antes de ela acabar de proferir a última sílaba do adjectivo mal empregue, interrompi o seu discurso e, com a melhor 'bitch face' que soube fazer, disse-lhe, mastigando as palavras: "EU PUS TERMO AO MEU NAMORO, ONTEM" (note-se o relevo que dei ao advérbio - era preciso ver e ouvir para perceber o impacto que teve).
Muito atrapalhada, a funcionária parou por uns segundos para pensar: "Fuck, já pus a pata na poça!" e depois disse, tentando remediar a asneira com uma dose medíocre de simpatia: "Oh, isso não há de ser nada; vai ver que em breve arranja outro... não é?"
Com um ar de enjoada, respondi: "Pois...", enquanto ela colava a etiqueta e informava: "São 58 cêntimos".
Enquanto eu tirava as moedas do bolso, suspirei, cocei a testa e fiz um olhar distante, a la Drama Queen, como quem diz: "Fogo, porque é que falaste nisso? Agora estou magoada..."
Quando saí da EC, sorri, satisfeita com a minha proeza de ter enrascado uma das funcionárias da estação mas antipática e hostil cá da zona. Adoro usar a minha habilidade dramática para impressionar e provocar reacções bizarras nas pessoas. Gotta love my job!


Após os acontecimentos surreais que se deram recentemente
e depois de uma noite passada em claro - essencialmente a escrever mais umas linhas do meu romance - hoje saí. Fui ter com a minha grande amiga, que não via há imenso tempo. Ia pelo camino a tentar preparar-me para lhe dizer algo que afinal era completamente desnecessário. A sua perspicácia continua a surpreender-me.
O reencontro foi um daqueles momentos que deviam poder ser guardados num frasco de formol para se conservarem.
Abraçámo-nos, chorámos como duas Madalenas... estávamos muito comovidas porque ambas temos dos amigos uma noção muito semelhante e encaramos a amizade com a mesma dependência, o mesmo fervor.
Falámos do(s) nossos(s) pseudo-herói(s), mas incrivelmente não nos demorámos assim tanto sobre esse assunto. Falámos de passado, sim, mas de um passado mais remoto e mais doce. Falámos de futuro, dos nossos heróis - aquele que toda a mulher quer - e de nós duas.
A casa de chá onde o nosso grupo se reunía em tardes de balda fechou. Por isso, fomos para a beira-rio. Soube bem. Conversámos muito, rimos e recuperámos o tempo perdido. Observámos a cor rosácea dos flamingos pachorrentos do estuário, caminhámos ao largo da baía... Sabem, aqueles momentos perfeitos, que nos enchem de um prazer totalmente espiritual, mas que transborda e se manifesta num sorriso?

O tempo passou rápido e ambas tínhamos os nossos afazeres em locais distintos. Não é uma pena os amigos não partilharem a nossa vida?
Caminhei durante muito tempo, sozinha e a tarde oferecia-me gostosos e acolhedores raios de sol.
Passei por muitos locais repletos de recordações.
A tal casa de chá das tardes de balda, já abandonada...
A praça onde nos sentávamos a apanhar sol e a conversar; onde os skaters malhavam para nosso regozijo e os velhos alimentavam os pombos.
O novo teatro, que está quase pronto e por onde já não passava há muito tempo. A construção está avançada e está a ficar um edifício bonito. Eu mudaria a cor, mas gosto da arquitectura; é bem ao estilo da cidade.
O lar de jovens onde eu fazia voluntariado e me despoletou uma vontade de entrar lá de novo...
A velha fonte do Pombal. Os velhos peixes, velho casario e os próprios velhos do centro de convívio...
A escola. Entrei. Entrei e milhares de acontecimentos voltaram a suceder num segundo. Estavam pessoas na sala de Drama, a fazer fatos. Apeteceu-me entrar para dar uma ajuda e recordar o delicioso frenesim que havia sempre antes de cada avaliação, cada performance, cada espectáculo...
Lembrei-me do professor. Ele considerava-me uma musa, mas não sei se tem noção de que ele é que me transformou numa musa e fez o meu talento amadurecer. Ele é meu mentor, meu amigo, minha inspiração. Queria contar-lhe os progressos da minha formação (que vai durar até ao fim dos meus dias) e da minha carreira. De qualquer forma, vê-lo-ei na mostra de Teatro.
A loja de cristais onde parávamos sempre a admirar as obras de arte... (a propósito, ofereci um cristal a um certo pseudo-herói e ele nem em agradeceu por isso. Meninos mimados não sabem reconhecer um gesto de delicadeza)
O pequeno centro comercial onde íamos tirar fotos idiotas em conjunto, na máquina de fotografias de passe...
O pronto-a-vestir onde abastecíamos as nossas toilettes... Hoje em dia, não sei se voltaria a comprar lá. Já não faz o meu estilo. Bem, EU NÃO TENHO estilo; talvez seja por isso. Mas aquele é um género de sexy naif que já não me assenta, acho. Muito embora quase toda a gente ache que eu tenho um ar mesmo sexy naif; uma cara jovial, de boneca... Mas de que estou eu a falar?


Entretanto escureceu
e tive de parar a caminhada para apanhar o transporte. Já se fazia tarde e eu tinha trabalho a fazer.
Para variar, esqueci-me das sapatilhas para aula de Dança. Como não tinha meia-calça sem pés, e as que tinha vestidas escorregavam muito, peguei na tesoura de uma das novas colegas e cortei-lhes os pés. Pronto, perneiras por cima e está tudo bem.
A propósito de novas colegas, estas são raparigas que ingressaram na classe, no âmbito de um programa de integração de jovens de risco. A instituição onde estudo e pratico é parceira do programa e aceitou facultar aulas a alguns jovens integrados nesse programa. Confesso que fiquei logo um pouco apreensiva quando me avisaram que viriam novas alunas naquelas ciscunstâncias. Pensei logo em adolescentes delinquentes de bairros duvidosos, com comportamentos reprováveis e que iriam destabilizar o grupo... O velho estigma dos estereótipos e dos preconceitos. É difícil deixá-los, principalmente quando se convive durante 6 meses com uma pessoa que tem preconceitos em relação a tudo.

Estas novas raparigas surpreenderam-me. Pela positva. revelaram-se umas jovens muito educadas, simpáticas, com bom aspecto, interessadas e dedicadas. Têm as dificuldades normais de principiante, mas com esforço vão acompanhando o trabalho.
Quando pensamos em "jovens de risco", "programas de integração", vêm-nos logo à cabeça coisas negativas. Mas que ideia fazemos de nós dos riscos que correm estes jovens? Que ideia fazemos das vidas que eles levam lá fora? Ou lá dentro - das suas casas? Temos alguma noção de que tipo de integração de que necessitam?
Às vezes, os problemas são ocultos, dissimulados - eu que o diga! E a única coisa de que as pessoas precisam é de algo que as motive, lhes dê vontade de se dedicarem a algo e as valorize. Espero que a descoberta da Dança, ainda que possivelmente um pouco mais superficial do que as que já encontraram a arte de Terpsícore há mais tempo, lhes proporcione mesmo algo de bom e melhore um pouco as suas vidas.


Saí mais cedo.
Vesti-me num ápice e fui trabalhar para o meu projecto. Tinha um professor à minha espera. Ia entrevistá-lo, no âmbito do meu projecto académico, que se tem revelado assaz interessnte. É impressão minha ou o professor de Dança, que sempre achei um pouco abichanado e cabeça-de-vento, é na verdade muito charmoso e tem as ideias no lugar?
E por falar em charme, ontem e hoje, o Sensei do karaté gastou comigo o mais de charme do que o habitual. Eu já nem me lembro porque é que nos falamos; eu nunca tive karaté, nem ele dança... O que é certo é que, sempre que nos cruzamos, ele lança-me aquele olhar de fogo, exibe aquele sorriso aguçado como uma lança... ai, que homem!

Lu, Lu... de que falas tu?! Tu não queres saber de homens. Lembra-te da decisão de tirar mais umas longas férias de namoricos. Tu queres é saber dos teus estudos, da tua carreira. Queres é saber de amigos... aqueles que já tens e te deves esforçar por manter.
E uma das iniciativas em prol disso é a saída que combinámos esta tarde, à beira-rio. Foi um dilema... Não sabemos bem para onde ir, mas num sítio ou noutro será agradável.

Tenho a orelha a ferver. Acho que alguém está a pensar ou a dizer mal de mim. Não sei porquê, mas tenho uma ligeira suspeita de quem seja... é melhor não pensar demasiado para não me enjoar.

2/03/2004

A minha vida dava um filme

O tempo: sunny day... lousy night
Lu está: incrédula

Ele há coincidências que até arrepiam.

Estive a pensar desde que liguei o computador (há muitas horas). Queria escrever qualquer coisa, mas não me saía nada, porque estou deveras baralhada.

Começo a acreditar seriamente no destino. Já tinha começado a pensar nisso mais seriamente, mas a minha convicção é cada vez maior.
Não acham que todas as coisas têm um motivo para acontecer? Que nada é obra do acaso? E que há pessoas que entram na nossa vida por uma razão específica e são essenciais nela? Mesmo quando não estão presentes?
Pois bem, hoje (ontem) deu-se um episódio deveras intrigante, mas acima de tudo dilacerante.
Estou outra vez naquele estado de entorpecimento, de dormência, de apatia.
Novamente, não tenho lágrimas para os olhos, nem expressão para o rosto, nem gritos para a a boca; como naquele dia em que, por motivos completamente diferentes dos que me baralham hoje, pensei docemente na morte.

Hoje não pensei na morte.

Aliás, estou "sem pensar" (se é que tal é possível) desde esta tarde. Se calhar é possível estar sem pensar. Já não coloco as mãos no fogo por nada. O impossível pode acontecer... e aconteceu esta tarde.

Sim, acredito mesmo que há pessoas que entram na nossa vida porque têm de fazer parte dela e mais tarde ou mais cedo revelam a razão de existirem no nosso caminho, mesmo quando distantes.

Hoje contactei uma dessas pessoas distantes. Uma daquelas amigas que deixam uma marca que perdura. Não poderia ter contactado em melhor hora. Era uma coisa tão trivial, mas que despoletou uma grande descoberta, um grande esclarecimento...
Pedi-lhe uma coisa simples; ela começou a falar de um semi-deus que tinha acabado de conhecer. Eu fiquei contente por termos algo em comum. Falei-lhe do meu semi-deus, que estava a trabalhar àquela hora. Ela, empolgada, falava ainda mais do semi-deus que tinha conhecido.
A semelhança era abismal.
Fiquei sem palavras.
Naquele estado desprovido de lágrimas, de expressão, de grito...
A incredulidade tomou conta de mim e eu agradeci o tempo disponiblizado, a atenção dada, a saudade cortada...
Não tive coragem de lhe dizer nada.
Não tive coragem de lhe dizer que o seu semi-deus era o que reina nas histórias da Antiguidade que líamos juntas: um mito.
A minha reacção deveria ter sido explosiva, mas eu não tive coragem de dissolver a sua nuvem de sonho.
Combinei um encontro, para conversarmos melhor. Não lhe podia contar a triste verdade a uma pessoa tão sensível assim, pelo telefone. Nem sequer sei que palavras vou usar para lhe contar pessoalmente.

Acho que não vou conseguir dormir.
Acho que não vou conseguir olhar para a cara dela e mostrar-lhe os factos.
Eu iludi-me com uma realidade e ela iludiu-se com um sonho...

Como é que alguém consegue ser tão ardiloso? Tão cruel? Tão insensível? Como é possível enganar as pessoas de maneira tão surreal?

Uma colega minha escreveu, há dias, o seguinte:Às vezes ainda consigo surpreender-me, como é possível as pessoas mudarem tanto? Convivemos tanto tempo com uma pessoa e chegamos à conclusão que nunca a conhecemos e pior, descobrimos uma faceta que julgavamos não existir... O amor é tão fragil e a condição humana tão idiota, não concordam? - o que me fez pensar muito...
Por acaso tive conhecimento do caso que originou estas palavras, mas julgava que era uma hipótese entre milhões de outras. Não existem pessoas assim. Pensava eu. Afinal existem e até bem piores.

Agora não sei dizer como me sinto.
O pseudo-herói já me tinha ferido emocionalmente; já me tinha iludido antes. A minha confiança não estava totalmente sarada; eu estava a deixá-la desabrochar de novo, com o tempo. Mas o tempo nada faz numa relação, quando uma das partes é passiva, portanto, a ferida continuou por cicatrizar. Talvez por isso a mágoa já não me assole tanto. Talvez por todas as vicissitudes emocionais e relacionais pelas quais já passei em (??) anos de vida me tenha tornado imune. Eu julgava que mais uma desilusão, mais uma mentira, mas uma estopada me iriam derrotar. Afinal estou inteira... por enquanto.
Bye bye, depressão, desta vez passei-te à frente.

Agora, o que reina no meu pensamento é um gigante "PORQUÊ?". Porque é que estas coisas me acontecem; porque é que este terrível acaso (acaso, eu acabei de escrever acaso? ISSO NÃO EXISTE!) se deu; porque é que aconteceu logo comigo, com aquelas pessoas... E porque carga d'água aquele biltre veio até mim e com a maior (e falsa) humildade, implorou perdão, se eu nunca signifiquei nada na sua vida? Um homem tão orgulhoso, tão cheio de soberba, presumido, convencido da sua potencialidade em todos os aspectos veio ter comigo, singela Lu, a pedir-me que ficasse com ele, que não lhe negasse os meus sentimentos.
PORQUÊ, se podias procurar outra qualquer para satisfazeres os teus caprichos? PORQUÊ, se nunca reconheceste o valor que tenho?

E porque foste magoar uma pessoa tão preciosa quanto a ...?
Acho que esse é o único motivo que me traz lágrimas aos olhos, porque eu não suporto ver amigos (principalmente quando eles revelam a sua verdadeira importância na minha vida) a sofrer. Felizmente, ela sofre por uma nuvem, que rapidamente se desvanece. Rapidamente ela encontrará, não um semi-deus, mas um deus, i.e., um homem que possa ser escrito e descrito com um grande H e que a trate como ela merece.

Neste momento, pergunto-me se ele queria usá-la da mesma maneira que me usou... e quanto tempo esperava que as suas mentiras durassem.

Que pulha!

O pseudo-herói apareceu, há bocado, no Messenger, para me dizer o que eu estava prestes a dizer-lhe... Ainda estou para perceber porque o disse. Mais um porquê...
Agora vejo porque é que, desde que reatámos os laços que nos uniam, ele se manteve distante. Sempre esteve de olho na outra hipótese mas foi aproveitando para se divertir mais um pouco comigo.
Decerto usou esta maneira ESTÚPIDA, PUERIL e COBARDE de me mandar à fava para ir atrás de outra tonta e fazer dela gato-sapato.
Aí é que ele se engana redondamente, porque amanhã, se Deus quiser, quem o manda à fava quando ele se puser com mais tretas é ela, porque já saberá de tudo. Juro que lhe vou abrir os olhos e não passa de amanhã à tarde, ou não me chamo Lu.

Agora rogo aos céus que me iluminem e dêm forças, coragem para enfrentar esta grande amiga - que nunca mais vou deixar que se afaste do meu caminho, garanto - para lhe dizer que deixe de acreditar em heróis helénicos, porque eles fazem parte do passado e no presente não existem, NÃO SÃO NADA.

2/02/2004

Ainda sobre a Morte

O tempo: menos mal
Lu está: a tentar perceber porque é que o seu semi-deus é um gajo tão complicado

Há uns tempos, estava eu numa má fase, por vários motivos. Sabem, quando estamos tão perdidos que nos perdemos de nós próprios? E quando perdemos a noção do que temos feito, do que temos a fazer, bem como do que queremos/devemos fazer? O velho cliché do "quem sou, de onde venho, para onde vou, o que estou cá a fazer"?
Pois bem, eu estava assim... Mais ou menos assim. Acho que preciso de uma bússola psíquica, porque eu perco-me de mim muitas vezes e as dúvidas, os medos, as mágoas assaltam-me constantemente quando ingresso em caminhos sinuosos.
Mas voltando ao main subject, eu estava mal. Mas nesse dia estava mal de uma maneira diferente. Estava mal, mas não estava. Não me apercebia disso. Estava anestesiada, apática. Não tinha lágrimas para os olhos, nem expressão para a face, nem lamúrias ou gritos para a boca. Estava abstracta.
Estava eu a caminhar e prestes a atravessar uma estrada.
Quando parei na berma, em vez de olhar para um lado e para ou outro, fechei os olhos. Fiquei a sentir o vento, a sentir o cheiro a pó e a progresso, a ouvir o barulho dos carros a passar veloz e incessantemente...
Esse barulho hipnotizou-me e transportou-me para uma espécie de twilight zone. Nesse momento, imaginei o que seria se eu me jogasse para a estrada e me deixasse ser colhida por um daqueles carros que passavam a alta velocidade. Esse pensamento tinha o estranho e doce sabor de mel na boca e o toque suave de pétalas de rosa. Quão doentio é isto? Preciso de ser internada? O que é certo é que eu senti isto e não me esqueço daquele sabor, daquele toque, daquela sensação. Soube-me bem e fiquei com esse sentimento gravado na memória. Se agora fechar os olhos, recordo-me nitidamente e esse sabor será igualmente bom.
Que estranho...
Eu não quero morrer.

Mas sabe tão bem!

Já alguém se sentiu assim ou devo remeter-me com urgência para o Parque de Saúde de Lisboa?

2/01/2004

Pobre caracol

O tempo: húmido
Lu está: com remorsos

Hoje pisei um caracol.
Pisei-o.
Vinha a caminhar, de regresso a casa. Estava escuro. Tinha começado a chuviscar e o meu passo estava acelerado.
Pisei-o.
Senti, sob o pé direito uma estranha sensação de pisar algo estaladiço e logo a seguir mole. Ouvi um ruído semelhante ao de batatas fritas de pacote a desfazerem-se entre os dentes. Fiquei logo com mais fome do que a que já tinha. Tive uma súbita vontade de comer umas Lays.
Tinha já avançado uns dois passos, quando parei para repensar aquela estranha sensação debaixo da minha sola e aquele barulho que me tinha aberto o apetite, mas ao qual não tinha dado grande importância. Tive curiosidade em saber o que teria originado aquele barulho, muito embora o meu primeiro e mais nítido pensamento fosse que aquilo era uma coisa sem importância.
Recuei os dois passos que tinha dado.
Lá estava ele, esborrachado. Era, realmente, uma coisa sem importância.

Tive vontade de chorar. Depois, de praguejar. Contra mim. Depois, de me dar um tabefe.
Tinha pisado um caracol.
Demorei-me a (tentar) observar aquela massa disforme e viscosa a controcer-se entre cacos minúsculos, sobre o passeio, no escuro. Fiquei anestesiada por uns segundos. Não senti nojo, não senti medo, não senti nada.
Mas perdi logo o apetite, fosse para batatas fritas ou qualquer outra coisa.
Depois segui caminho.
Ao longo dos 100 metros que faltavam até minha casa fui a pensar no caracol que tinha acabado de matar. Pus-me a imaginar que vida é que eu tinha acabado de interromper. Questionei-me sobre que afazeres ele teria para realizar e quanto tempo lhe faltaria para os concretizar. Imaginei uma Sra. Caracol ou até mesmo que eu tinha, na verdade, pisado uma caracola (sim, eu sei que os caracóis têm uma sexualidade marada - há alturas em que até me apetecia também mudar de sexo consoante a conveniência...). Pensei se ele tinha sentido dor e que tipo de dor seria essa. Pensei como suportaria eu essa dor se tal acontecesse comigo. Questionei, principalmente, que valor teria a vida daquele bicho.
Afinal, a vida de um caracol não deveria significar nada para mim. É um ser minúsculo e tão insignificante (será?). Além disso, eu odeio caracóis. Detesto tudo o que seja ou se aproxime de répteis, batráquios, insectos, vermes, aracnídeos, moluscos... Moluscos, só gosto dos do mar... para comer. Mas eu tenho nojo de caracóis e de cada vez que vejo um monte deles num prato, cozinhados com orégãos dá-me volta ao estômago e faz-me pensar até que ponto é que nós, mediterrânicos, temos hábitos alimentares menos estranhos que os orientais.
Eu tenho nojo de caracóis; viro a cara sempre que me põem diante de um, mas não tive nojo deste. Não virei a cara; antes fiquei a observá-lo, ainda por cima desfeito. Tive pena dele. Tive raiva de mim, porque o tinha estropiado.
Pus-me a pensar até que ponto é que sou superior a ele, para me dar o direito de não me incomodar com o facto de matar um bicharoco. Eu detesto tudo quanto é bicheza que rasteja ou voa sem ter penas, mas tenho um enorme respeito por cada espécie. Não mato bicho algum, desde que não me faça mal, porque eles têm tanto direito de estar aqui quanto eu. Afinal, por alguma razão foram criados. Só dou caça às moscas e aos mosquitos, porque são imundos e propagam doenças. De resto, vejo um bicho desses e afasto-me. "Quem está mal que se mude" (eu não acredito muito nisso, mas pronto).

Pensei no quão mais valerei do que aquele caracol ou qualquer outro animal, se é que eu (o ser humano, em geral) valho mais do que algum animal. Pensei no dom que nos foi fadado de gerir o planeta e poder decidir sobre a vida dos demais seres. "Enchei e dominai a Terra". Até que ponto é que a minha racionalidade valida o meu domínio sobre os outros animais?

Que sorte que tenho (ou não) em ter nascido humana. Já viram se tivesse nascido caracol? Se eu fsse AQUELE caracol? Mas também, podes ser humano e ser morto antes mesmo de nasceres...

This is fucking lame, mas a esta hora só consigo PENSAR, por mais estúpido que seja o assunto. Pensar, pensar, pensar. Reflicto demais sobre coisas demais, idiotas demais. Estou condenada a pensar. Estamos todos. "Cogito, ergo sum" (Descartes). No meu caso, atrevo-me a dizer "Sum, ergo cogito"...

Com isto tudo, devem pensar que me vou tornar vegan...











Nah. Gosto do meu belo bife. Além disso, será que a minha racionalidade valida o poder de impedir um rebento de soja de se desonvolver ou de cortar o caule de uma espiga de trigo? :)
Somos omnívoros, caramba! O Homem é Homem e contra isso não há nada a fazer.
Temos direito, sim, de controlar a Natureza. É a nossa tarefa, por isso é que evoluímos desda a roda até aos moinhos e aos computadores. Temos esse direito. Temos esse dever. Desde que tal não seja para satisfazer caprichos insanos.
Bolas, cheguei a uma conclusão! É a primeira a que chego em dias!

Bolas, pisei um caracol. Que nojo!


Agora, de repente, lembrei-me da fome que sentia. Vou comer umas Lays.