Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

2/04/2004

Imaginem...

O tempo: luminoso e quentinho
Lu está: preguiçosa

Imaginem uma pessoa extremamente egocêntrica, egoísta...
Uma pessoa altiva e cheia de soberba...
Que se acha melhor do que tudo e todos...
Que despreza tudo o que seja exterior ao seu mundo de luxos e caprichos...
Que se refere a seres humanos - seus semelhantes! - como criaturas indignas e inferiores...
Que se vangloria das coisas que possui, que pode e que quer possuir...
Que só dá valor a posses e aparências...
Que se preocupa em alimentar o seu enorme ego...
Mas nunca em fomentar um pouco o enaltecimento do ego dos outros - os que lhe querem bem...
Que dá uma enorme importância ao status das pessoas e aos vis prazeres que pode retirar delas...
Mas importância nenhuma ao que de melhor essas pessoas podem oferecer, como bom carácter, carinho, respeito, fidelidade, partilha...
Uma pessoa que se considera muito madura e independente...
Mas que na verdade é emocionalmente imatura e egoísta; que está completamente presa aos seus caprichos e preconceitos...
Uma pessoa que proclama ser "leal e honesta"...
Mas que na verdade é das pessoas mais levianas que há e que vive - e faz os outros viver - uma grande mentira.

Imaginem...

Imaginem agora que têm uma relação com essa pessoa. Conseguiam?

Seria demais, não é?

Foi demais, para mim. Talvez por isso me sinta bem com o termo de uma relação... SIM, PORQUE EU TIVE UMA RELAÇÃO COM UMA PESSOA ASSIM.
Até hoje, não percebi bem porque é que fiquei naquele estado de torpor desporvido de lágrimas, de expressão, de grito... Eu acreditava que o desalento me iria consumir, mais uma vez. Essa pessoa disse-me que eu iria chorar muito por causa do fim e eu não respondi, porque concordava.
Mas não chorei. Não choro. Não desta vez.

Desta vez foi por minha vontade e desta vez sabia ao certo a razão para o fim anunciado.
Já tinha sido anunciado, na minha mente, há muito tempo.
Estou satisfeita, aliviada.

Se para alguma coisa serviram os desgostos e as agruras por que passei ao longo da minha vida, foi para me abrir os olhos e fortalecer. Foi para me ensinar a não deixar NENHUMA ferida causada por outros sem o devido troco.

O meu troco está dado. Estou livre.

É agora altura de encher o ritão de vinho doce e de mel, de erguê-lo bem alto, de bradar de contentamento e brindar à Vitóra. Muito boa moça, a Vitória...

Resta-me só um ligeiro sentimento de pena daquela pessoa que deixei. Pena, porque é um desperdício deixar alguém aparentemente tão perfeito (acreditem, que superficialmente parece ser) e cheio de potencialidades (essas sim, tem) assim, em bruto. Precisava de alguém que o fizesse desabrochar. Eu quis e podia ser essa pessoa, mas não podemos obrigar ninguém a nada...
Espero que ele encontre essa chuva renovadora a seu tempo. E que possa ser feliz com a mudança.

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