Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

2/08/2004

Night Life

O tempo: nem parei para observar isso
Lu está: cheia de vida

Ontem saí.
Fui à discoteca com os meus amigos, como tem sido hábito nas últimas semanas e mais uma vez foi muito bom esquecer-me da minha perturbação bipolar por umas horas.
Sempre fui uma pessoa muito caseira e pouco dada a saídas. Porém, quando se arranja a companhia certa, i.e., pessoas de confiança (conduzem bem, não cometem excessos) e com quem me dou muito bem (o que é difícil), não posso deixar de ceder à tentação de me produzir um pouco mais do que o habitual e passar a noite a dançar.

Era um grupo bem grande, mas para começar a noite numa dimensão ainda maior, um dos nossos companheiros - logo um dos melhores - foi barrado à entrada. Mesmo a calhar, a ex-namorada dele, ou pelo menos namorada que estava bastante chateada com ele, decidiu não entrar connosco e foi com ele para o carro, pois precisavam muito de conversar a sós. Lá ficaram entretidos noite toda... a conversar, garanto.

Ora, nós fomos à tal discoteca de propósito para encontrar o homem que uma das minhas amigas anda a galar há duas semanas. Não o conhece de lado nenhum, nem sabe o nome dele, nunca trocou sequer uma palavra com ele, mas desde que o viu ficou encantada pelos sinais de nascença que tem no rosto e os seus olhos côr de avelã muito brilhantes e expressivos - é verdade, eu estive sempre lá para testemunhar, ele tem uns olhos muito bonitos. Ai, ai, como eu adoro olhos côr de avelã... Doces lembranças...

Houve muita troca de olhares, muita dança sensual, muito sorrisinho, muitas insinuações, mas nem chegaram falar um com o outro, não perguntaram o nome, não trocaram nºs de telemóvel... Dumbasses! Eu só não a ajudei, porque de cada vez que me aproximava para lhe perguntar o nome, tinha vontade de rir. Acho o jogo dos recadinhos um tanto infantilóide... se bem que às vezes é tão mais cómodo!

Bem, tudo isto para dizer que o gajo não apareceu esta semana. Que desilusão. A minha amiga estava mesmo a fim dele. E ele dela. Tem ar de ser bom homem. Só que são ambos muito tímidos.


Em compensação, arrasámos, como sempre.
Regra geral, a meio da noite estamos rodeadas de gaviões, o que me lisongeia um pouco, mas deixa muito mais incomodada. Já não se pode dançar em paz, porque está um gajo à minha frente a olhar-me de alto a baixo, tipo a avaliar; à minha esquerda está um a fazer a dança do pavão para se mostrar; atrás de mim, outro a tentar agarrar-me a cintura e à minha direita dois fulanos com mau aspecto (tal como os outros todos) a fazer o papel de juízes dos meus passos. Se há coisa que detesto é um gajo feio e desesperadamente com falta de pito numa discoteca. E cotas sozinhos e frustrados com a mania de que são jovens garanhões. Que vão à discoteca é como o outro, mas não precisam de se armar em teenagers.

Ontem estavam lá muitos gajos feios.
E o pior é que sorriam para mim. Que nojo!
Há pessoas tão feias que deviam pagar multa. Ontem, a BAF (Brigada Anti-Feiura) podia ter feito umas boas massas só em multas. E eu, como até posso cometer a imodéstia de dizer que sou um pitéu de gaja e além disso, não danço nada mal, tenho tudo a babar para mim. Feios, gordos, carecas, novos, velhos, estilosos, pirosos, pretos, brancos...

Uma boa tática que eu e uma das minhas amigas arranjámos para dançarmos à vontade é fazer a Dança da Sapata, ou seja, dançamos juntas como se fôssemos mesmo muito íntimas... tipo fufas (mas sem exageros, que eu não quero cá misturas!). É verdade que eles ficam ainda mais excitados, mas pelo menos não nos tocam, nem vêm com paleios da treta. E nós duas divertimo-nos muito!


Mas regra geral, gosto de observar a vida que pulsa dentro das discotecas.
Eu sou do tipo que vai para o meio da pista e fica a rodopiar, olhando para todos os lados. Gosto de observar as dezenas ou centenas de histórias que acontecem simultaneamente num pequeno espaço fechado e de apreender tantas quanto a minha visão permite.
- As betas agarradas às suas pochettes e à sua vodka laranja, que ficam paradas a observar o movimento, porque
a) acham-se superiores àquela chusma
b) acham-se tão boas, que esperam que algum gajo vá ter com elas
c) querem ficar paradas para se poder ler nas suas vestes os CCs (falsificados) da Channel
d) porque não conseguem dançar em cima das suas botas de salto-agulha (by the way, eu consigo e bem!)
ou e) porque simplesmente não sabem dançar
- Os tais gajos feios e sem companhia que cirandam de gaja em gaja, até que alguma aceite a sua corte
- Os que ficam sobre os degraus a balouçar para um lado e para o outro como árvores ao vento, a observar o movimento da pista
- As raparigas que passam o tempo todo sobre a coluna, agarradas ao ferro, que lhes dá um aspecto um pouco vulgar
- Os que passam o tempo todo encostados ao bar, a beber
- As inúmeras "curtes", que acontecem depois de dois segundos de roça-não-roça...

É um grande filme que se desenrola a um ritmo alucinante.


Ora ontem, para variar, até havia um moço engraçadinho a galar-me.
Baixo, magro, mas bem constituído, olhos vivazes, com estilo, sabia dançar, ar de puto reguila, um sorriso malandro mas adorável... Um amor de gajinho. Já tinha reparado nele na semana passada, pois ele estava de olho em mim. Também tem cá um ar de safadinho...
Esta semana meteu-se comigo:
- Se alguém disser que te mexes mal... Meu Deus!
- Acho que posso dizer o mesmo de ti... - sussurrei-lhe ao ouvido.

Continuámos a dançar, perto um do outro e os nossos amigos, à nossa volta, achavam muita piada à troca de olhares e à conversa marota que se desenrolou.
- Não sei o que hei de fazer contigo.
- Queres que te dê ideias?
...

Adoro o jogo da sedução. É tão divertido. Gosto de realçar os meus dotes, usar da minha ironia e do meu sentido de humor para atrair (ah pois, Os Homens Não Prestam, mas as mulheres também não; podem ser fiéis, mas não ficam cegas nem parvas)... e depois dar tampa. Pode parecer cruel, mas eu simplesmente não sou do tipo de engates na discoteca, "curtes" e afins. Além do mais, neste momento não estou disponível para ninguém (pois, pois, Lu, finge que acreditas nisso...).

A corte durou a noite toda. Fiquei a saber o nome dele, ele ficou a saber o meu. Por coincidência, ele vive muito perto de mim e - imagine-se! - estudou nos Pupilos do Exército. Eu tenho cá uma pontaria para soldadinhos...
O moço revelou-se muito simpático e esperto. Não sei porque não lhe dei o meu contacto, nem pedi o dele para combinarmos um chá. Mas prometi voltar na próxima semana; como ele é um habitué, voltamos a ver-nos.
Falámos durante algum tempo, quando saímos e por causa disso cheguei a casa muito tarde...
Ou será melhor dizer muito cedo? Era cedo para me levantar, mas já estava muita gente a apanhar transportes para ir trabalhar. Até me sinto mal, só de pensar nisso.
Chegar a casa de manhã é quase obsceno; parece fazer pouco das pessoas a quem a vida custa a ganhar.

Afinal, a minha freguesia não é tão pequena quanto parece. Ainda se encontram vizinhos com quem vale a pena conversar... ou não.

1 Comments:

  • At 11:01 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

     

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