Pobre caracol
O tempo: húmido
Lu está: com remorsos
Hoje pisei um caracol.
Pisei-o.
Vinha a caminhar, de regresso a casa. Estava escuro. Tinha começado a chuviscar e o meu passo estava acelerado.
Pisei-o.
Senti, sob o pé direito uma estranha sensação de pisar algo estaladiço e logo a seguir mole. Ouvi um ruído semelhante ao de batatas fritas de pacote a desfazerem-se entre os dentes. Fiquei logo com mais fome do que a que já tinha. Tive uma súbita vontade de comer umas Lays.
Tinha já avançado uns dois passos, quando parei para repensar aquela estranha sensação debaixo da minha sola e aquele barulho que me tinha aberto o apetite, mas ao qual não tinha dado grande importância. Tive curiosidade em saber o que teria originado aquele barulho, muito embora o meu primeiro e mais nítido pensamento fosse que aquilo era uma coisa sem importância.
Recuei os dois passos que tinha dado.
Lá estava ele, esborrachado. Era, realmente, uma coisa sem importância.
Tive vontade de chorar. Depois, de praguejar. Contra mim. Depois, de me dar um tabefe.
Tinha pisado um caracol.
Demorei-me a (tentar) observar aquela massa disforme e viscosa a controcer-se entre cacos minúsculos, sobre o passeio, no escuro. Fiquei anestesiada por uns segundos. Não senti nojo, não senti medo, não senti nada.
Mas perdi logo o apetite, fosse para batatas fritas ou qualquer outra coisa.
Depois segui caminho.
Ao longo dos 100 metros que faltavam até minha casa fui a pensar no caracol que tinha acabado de matar. Pus-me a imaginar que vida é que eu tinha acabado de interromper. Questionei-me sobre que afazeres ele teria para realizar e quanto tempo lhe faltaria para os concretizar. Imaginei uma Sra. Caracol ou até mesmo que eu tinha, na verdade, pisado uma caracola (sim, eu sei que os caracóis têm uma sexualidade marada - há alturas em que até me apetecia também mudar de sexo consoante a conveniência...). Pensei se ele tinha sentido dor e que tipo de dor seria essa. Pensei como suportaria eu essa dor se tal acontecesse comigo. Questionei, principalmente, que valor teria a vida daquele bicho.
Afinal, a vida de um caracol não deveria significar nada para mim. É um ser minúsculo e tão insignificante (será?). Além disso, eu odeio caracóis. Detesto tudo o que seja ou se aproxime de répteis, batráquios, insectos, vermes, aracnídeos, moluscos... Moluscos, só gosto dos do mar... para comer. Mas eu tenho nojo de caracóis e de cada vez que vejo um monte deles num prato, cozinhados com orégãos dá-me volta ao estômago e faz-me pensar até que ponto é que nós, mediterrânicos, temos hábitos alimentares menos estranhos que os orientais.
Eu tenho nojo de caracóis; viro a cara sempre que me põem diante de um, mas não tive nojo deste. Não virei a cara; antes fiquei a observá-lo, ainda por cima desfeito. Tive pena dele. Tive raiva de mim, porque o tinha estropiado.
Pus-me a pensar até que ponto é que sou superior a ele, para me dar o direito de não me incomodar com o facto de matar um bicharoco. Eu detesto tudo quanto é bicheza que rasteja ou voa sem ter penas, mas tenho um enorme respeito por cada espécie. Não mato bicho algum, desde que não me faça mal, porque eles têm tanto direito de estar aqui quanto eu. Afinal, por alguma razão foram criados. Só dou caça às moscas e aos mosquitos, porque são imundos e propagam doenças. De resto, vejo um bicho desses e afasto-me. "Quem está mal que se mude" (eu não acredito muito nisso, mas pronto).
Pensei no quão mais valerei do que aquele caracol ou qualquer outro animal, se é que eu (o ser humano, em geral) valho mais do que algum animal. Pensei no dom que nos foi fadado de gerir o planeta e poder decidir sobre a vida dos demais seres. "Enchei e dominai a Terra". Até que ponto é que a minha racionalidade valida o meu domínio sobre os outros animais?
Que sorte que tenho (ou não) em ter nascido humana. Já viram se tivesse nascido caracol? Se eu fsse AQUELE caracol? Mas também, podes ser humano e ser morto antes mesmo de nasceres...
This is fucking lame, mas a esta hora só consigo PENSAR, por mais estúpido que seja o assunto. Pensar, pensar, pensar. Reflicto demais sobre coisas demais, idiotas demais. Estou condenada a pensar. Estamos todos. "Cogito, ergo sum" (Descartes). No meu caso, atrevo-me a dizer "Sum, ergo cogito"...
Com isto tudo, devem pensar que me vou tornar vegan...
Nah. Gosto do meu belo bife. Além disso, será que a minha racionalidade valida o poder de impedir um rebento de soja de se desonvolver ou de cortar o caule de uma espiga de trigo? :)
Somos omnívoros, caramba! O Homem é Homem e contra isso não há nada a fazer.
Temos direito, sim, de controlar a Natureza. É a nossa tarefa, por isso é que evoluímos desda a roda até aos moinhos e aos computadores. Temos esse direito. Temos esse dever. Desde que tal não seja para satisfazer caprichos insanos.
Bolas, cheguei a uma conclusão! É a primeira a que chego em dias!
Bolas, pisei um caracol. Que nojo!
Agora, de repente, lembrei-me da fome que sentia. Vou comer umas Lays.
Lu está: com remorsos
Hoje pisei um caracol.
Pisei-o.
Vinha a caminhar, de regresso a casa. Estava escuro. Tinha começado a chuviscar e o meu passo estava acelerado.
Pisei-o.
Senti, sob o pé direito uma estranha sensação de pisar algo estaladiço e logo a seguir mole. Ouvi um ruído semelhante ao de batatas fritas de pacote a desfazerem-se entre os dentes. Fiquei logo com mais fome do que a que já tinha. Tive uma súbita vontade de comer umas Lays.
Tinha já avançado uns dois passos, quando parei para repensar aquela estranha sensação debaixo da minha sola e aquele barulho que me tinha aberto o apetite, mas ao qual não tinha dado grande importância. Tive curiosidade em saber o que teria originado aquele barulho, muito embora o meu primeiro e mais nítido pensamento fosse que aquilo era uma coisa sem importância.
Recuei os dois passos que tinha dado.
Lá estava ele, esborrachado. Era, realmente, uma coisa sem importância.
Tive vontade de chorar. Depois, de praguejar. Contra mim. Depois, de me dar um tabefe.
Tinha pisado um caracol.
Demorei-me a (tentar) observar aquela massa disforme e viscosa a controcer-se entre cacos minúsculos, sobre o passeio, no escuro. Fiquei anestesiada por uns segundos. Não senti nojo, não senti medo, não senti nada.
Mas perdi logo o apetite, fosse para batatas fritas ou qualquer outra coisa.
Depois segui caminho.
Ao longo dos 100 metros que faltavam até minha casa fui a pensar no caracol que tinha acabado de matar. Pus-me a imaginar que vida é que eu tinha acabado de interromper. Questionei-me sobre que afazeres ele teria para realizar e quanto tempo lhe faltaria para os concretizar. Imaginei uma Sra. Caracol ou até mesmo que eu tinha, na verdade, pisado uma caracola (sim, eu sei que os caracóis têm uma sexualidade marada - há alturas em que até me apetecia também mudar de sexo consoante a conveniência...). Pensei se ele tinha sentido dor e que tipo de dor seria essa. Pensei como suportaria eu essa dor se tal acontecesse comigo. Questionei, principalmente, que valor teria a vida daquele bicho.
Afinal, a vida de um caracol não deveria significar nada para mim. É um ser minúsculo e tão insignificante (será?). Além disso, eu odeio caracóis. Detesto tudo o que seja ou se aproxime de répteis, batráquios, insectos, vermes, aracnídeos, moluscos... Moluscos, só gosto dos do mar... para comer. Mas eu tenho nojo de caracóis e de cada vez que vejo um monte deles num prato, cozinhados com orégãos dá-me volta ao estômago e faz-me pensar até que ponto é que nós, mediterrânicos, temos hábitos alimentares menos estranhos que os orientais.
Eu tenho nojo de caracóis; viro a cara sempre que me põem diante de um, mas não tive nojo deste. Não virei a cara; antes fiquei a observá-lo, ainda por cima desfeito. Tive pena dele. Tive raiva de mim, porque o tinha estropiado.
Pus-me a pensar até que ponto é que sou superior a ele, para me dar o direito de não me incomodar com o facto de matar um bicharoco. Eu detesto tudo quanto é bicheza que rasteja ou voa sem ter penas, mas tenho um enorme respeito por cada espécie. Não mato bicho algum, desde que não me faça mal, porque eles têm tanto direito de estar aqui quanto eu. Afinal, por alguma razão foram criados. Só dou caça às moscas e aos mosquitos, porque são imundos e propagam doenças. De resto, vejo um bicho desses e afasto-me. "Quem está mal que se mude" (eu não acredito muito nisso, mas pronto).
Pensei no quão mais valerei do que aquele caracol ou qualquer outro animal, se é que eu (o ser humano, em geral) valho mais do que algum animal. Pensei no dom que nos foi fadado de gerir o planeta e poder decidir sobre a vida dos demais seres. "Enchei e dominai a Terra". Até que ponto é que a minha racionalidade valida o meu domínio sobre os outros animais?
Que sorte que tenho (ou não) em ter nascido humana. Já viram se tivesse nascido caracol? Se eu fsse AQUELE caracol? Mas também, podes ser humano e ser morto antes mesmo de nasceres...
This is fucking lame, mas a esta hora só consigo PENSAR, por mais estúpido que seja o assunto. Pensar, pensar, pensar. Reflicto demais sobre coisas demais, idiotas demais. Estou condenada a pensar. Estamos todos. "Cogito, ergo sum" (Descartes). No meu caso, atrevo-me a dizer "Sum, ergo cogito"...
Com isto tudo, devem pensar que me vou tornar vegan...
Nah. Gosto do meu belo bife. Além disso, será que a minha racionalidade valida o poder de impedir um rebento de soja de se desonvolver ou de cortar o caule de uma espiga de trigo? :)
Somos omnívoros, caramba! O Homem é Homem e contra isso não há nada a fazer.
Temos direito, sim, de controlar a Natureza. É a nossa tarefa, por isso é que evoluímos desda a roda até aos moinhos e aos computadores. Temos esse direito. Temos esse dever. Desde que tal não seja para satisfazer caprichos insanos.
Bolas, cheguei a uma conclusão! É a primeira a que chego em dias!
Bolas, pisei um caracol. Que nojo!
Agora, de repente, lembrei-me da fome que sentia. Vou comer umas Lays.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home