Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

1/30/2004

O destino de todos nós

O tempo: Dia de S. Ramalho (chove com'ó c...)
Lu está: pensativa

Ora cá estou eu de volta, após um interregno de alguns dias.
Tenho estado (pre)ocupada com inúmeras coisas, uma das quais é o meu projecto académico. O maldito projecto. E pensar que algo tão claro quanto a falta de divulgação da Dança me ia dar tanto trabalho...

A minha relação com o pseudo-herói da Margem Norte... vai andando. Está longe de ser perfeita e os erros do passado ainda não foram supridos. E minha confiança ferida não está sarada. Terei razões para a manter assim? Talvez sim, talvez não... Veremos.

Não me sai da cabeça a morte de Miklos Féher. As imagens daquele sorriso seguido de um tombo incansavelmente reptidas pelos Media martelam-me na cabeça. 24 anos... Um jovem belo, atlético, supostamente saudável... Uma curta vida. Um longo rol de projectos, decerto. Penso na sua família e na noiva que estava prestes a tornar-se no alicerce para uma nova família, que ele ia criar. Todos o viam como um bom homem, cheio de virtudes e potencialidades.
"Porquê?" - Acho que é a pergunta que reina nas mentes de todos. Porque é que ele morreu tão jovem? Porque é que morreu daquela maneira? E ele merecia? Com tanta gente ruim neste mundo, porque é que tinha de lhe acontecer isto?
Eu também caí na tentação de pensar assim. Como tantas vezes caí na tentação de pensar porque é que as criancinhas nascem mortas ou porque sofrem de leucemia; porque é que os jovens morrem em estúpidos acidentes de viação ou numa queda de um simples escadote - como morreu um conhecido meu... Depois lembrei-me d'Ele. Lembrei-me de que os desígnios do Ser Supremo que nos criou e possui são intangíveis à nossa inteligência. Os nossos critérios não são os d'Ele; a nossa justiça não é a d'Ele, o nosso tempo não é o d'Ele; a nossa eternidade é um segundo aos Seus olhos... que bom que seria se pudéssemos alcançar e apreender de todo a Sua omnisciência, a Sua omnipresença e a Sua omnipotência. Isso significaria que O compreenderíamos totalmente.
Isso significaria que estas mortes ditas "estúpidas" já teriam algum sentido.
Isso significaria que seríamos iguais a Ele.
Seríamos Deuses.
Que bom que seria...
Mas eu não me atrevo a desejar tal coisa.
Reconheço a minha infinita pequenez diante d'Ele e isso não me incomoda nada. Sou eu e basta-me. Sou humanista, mas não tanto.

Assim, não compreendendo porque é que jovens como o Miki, o Pedro, a Élia ou a Jaqueline morrem, enquanto Bin Ladens e Bushes andam à solta e no bem-bom, resigno-me e apenas reflicto sobre estes factos. Sobre a lei da vida. Sobre a frágil natureza humana.

Isto leva-me a citar, mais uma vez, Maria Mariana de Oliveira (desculpem-me a obsessão, mas eu sou actriz e ela é autora da obra que deu origem à peça em que esto a trabalhar):

«Um dia eu tava dentro do carro com meu pai e ele reclamando: "Que eu me sinto velho... me sinto velho..." Eu estourei e disse: "Porra, tudo bem ser velho, merda!" E ele: "Folgada!" Velhice. Medo de quê? Da morte mais perto? Só que eu posso morrer antes dele. Posso morrer daqui a cinco minutos. Portanto, eu devia ter muito mais medo da morte que ele! Se ele morrer com 55 anos, já escreveu muitas peças, já amou loucamente muitas vezes, já teve filho, já viu muito pôr do sol!
Se eu morrer com 18 anos, porra nenhuma feita, amei uns três ou quatro, nunca escrevi peça, nunca tive filho, mas já fiz muita merda, muita coisa pra consertar, ficaria muito mais coisa por fazer! Não sei da vida. A morte deve ser mais assustadora para mim do que para ele. E de que adianta saber para quem a morte é mais assustadora? Assim eu pensava enquanto de dentro do carro via a estrada ficando para trás.»

AFINAL, A MORTE É O DESTINO DE TODOS NÓS.

Algo que, no meio disto tudo, devemos reter é o seguinte: esta vida é tão preciosa e, ao mesmo tempo, tão fugaz que o melhor que temos a fazer é sugá-la até ao tutano, aproveitar cada minuto, como se fosse o último, porque eles são como botões de rosa: florescem apenas uma vez; são únicos, irrepetíveis.
Assim, a vida, dure 8 ou 80 anos, vale a pena. "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena" (F. Pessoa(s)).

1/18/2004

You can't defy fate...

O tempo: sol, frio
Lu está: in love

Ok, eu devo ser estúpida. Ou estou demasiado apaixonada. Ou o fado destinou-me a isto. Ou ele merece mesmo. Ou se calhar é tudo isso...

Falei com o fulano do outro lado do rio (que veio a esta margem ter comigo, mesmo a contorcer-se de dores no joelho recém-operado - que querido!) e pusémos tudo em pratos limpos. A propósito de pratos limpos, não te esqueças de devolver o prato da minha mãe, amor.
Eu disse como me sentia, como tinha ficado magoada. Ele reconheceu a sua cretinice ocasional e explicou os motivos da sua negligência, que, por mais fortes que sejam, não chegam para remediar a ferida que abriu em mim. Ele gritou, eu ripostei; ele queixou-se, eu queixei-me. Enfim, fiquei a conhecer um pouco melhor alguém que eu deixei de reconhecer. Mas que continuei a amar.

Foi difícil olhar para ele. Eu não queria; eu sabia que olhar nos olhos dele faria com que a ternura se sobrepusesse à minha raiva, mas... Como não deixar que isso acontecesse? Como sentir as suas mãos quentes a agarrar a minha mão gélida, olhar para os seus olhos de mel húmidos de comoção, ouvir a sua voz arrependida a repetir "Eu não te queria magoar... perdoa-me... perdoa-me" e não ceder? Bolas, eu gosto deste homem e não posso fazer nada contra isso! Apesar de tudo isto me ter abalado e destruído grande parte do que eu já tinha construído em prol de uma essência mais confiante e receptiva para as pessoas, resolvi perdoar. O perdão é a principal lição que O Grande JC me deu, por isso nunca é demais fazê-lo. Resolvi tentar, até porque defendo a teoria de que nunca sabemos a verdadeira consistência de uma relação até à primeira grande desavença.
Isto não implica que tenha perdido o receio. Continuo a ter pavor de todas as pessoas e do que elas são capazes de fazer. Continuo a ter medo de me magoar por me permitir a veleidade de me sentir amada. Tenho tanta vontade quanto dificuldade de confiar nele.

A minha paixão continua a ser imensa. Mas espero que ele tenha a noção de que, depois disto, o seu saldo no meu banco sentimental ficou reduzido. Oxalá ele faça um esforço para fazê-lo render...

1/16/2004

Alvíssaras!...

O tempo: sol, poucas nuvens, frio
Lu está: melhor da barriga

Pois é, hoje até consegui comer uma mousse de manga. Estou a comê-la agora, aliás. E está a saber-me muito bem (espero que o meu médico não esteja a ler isto).

Ok, para quem ficou com vestígios de credulidade em relação ao facto de eu ser uma ninfette - se é que alguém leu este blog - desenganem-se. Eu não sou viciada em sexo. A minha obsessão é mesmo a Dança. Quanto a ter ou não sexo de jeito, isso é discutível... mas não no meu blog. Afinal, que chavascal pensam que isto é?

O tal fulano que vive do outro lado do rio e acredita que reencarnou um herói apareceu-me ontem à noite no Messenger, precisamente depois de 16 dias de silêncio conventual ao qual se votou; isto após EU ter tido a dignidade de telefonar para ouvir as suas respostas cretinas. E apareceu só porque lhe enviei um e-mail para saber se estava vivo. Acontece que a minha nova assinatura dos e-mails é o link para o meu lindo e fresco blog e o moço teve curiosidade de vir ver. Ficou tão incomodado com a leitura da minha posta, que resolveu dar a cara, ou melhor, a tecla. De outro modo, teria permanecido silencioso como um carmelita. A diferença é que ele é o gajo mais horny que eu já conheci.
Reivindicou a autoria do meu actual estado depressivo - sempre foi muito presunçoso o rapaz - o que me fez lembrar os atentados terroristas no Médio Oriente. Uma semana depois, o membro X da organização rebelde Y (acabei de dizer um oxímoro, repararam?) anuncia à Comunicação Social que foi o mentor do atentado do dia D à hora H. E nós ficamos tipo: "Duh, como se nós ja não soubéssemos...".
O discurso dele foi deveras variado. Começou com um súbito rasgo de sinceridade, dizendo "adoro-te e continuo a gostar de ti". Ó meu, tu nunca soubeste o significado da palavra sinceridade e esperavas aprendê-la de repente, só para me dizeres isso? Acho que tens uma noção deturpada do sentido da palavra. Por isso é que o que disseste me soa a FALSO.
Continuando a descrever a variedade do discurso do dito pseudo-herói, eis exemplos das suas respostas tão originais e desenvolvidas:
[22:37:45] ...: como queiras
[22:38:45] ...: se tu o dizes
[22:38:57] ...: se assim o achas
[22:40:41] ...: se assim o achas
[22:41:09] ...: lamento esse episodio
[22:49:19] ...: lamento esse episodio
[22:54:12] ...: lamento...
[23:03:36] ...: como queiras
[23:07:56] ...: é a vida
[23:08:52] ...: é a vida
[23:10:21] ...: é a vida
Amorzinho, o teu léxico está a ficar um nadinha reduzido, não? Ou será que reconheces que NÃO HÁ palavras que formulem uma explicação plausível para as tuas atitudes que te apontei?

Ora, não batamos mais no ceguinho, aliás, coxo. O moço propôs encontramo-nos para conversar e então ele terá oportunidade de me explicar a sua cretinice. «Quando quiseres podemos falar»...
Meu tesouro, mas eu QUERO falar contigo há canos; tu é que não deixas.
Bem, vejamos se até amanhã à noite ele consegue arranjar alguma mentira mais aceitável do que as que tem dito até agora.

GRRRR! Que raiva! Só me apetece enchê-lo de tabefes e pauladas, dizer-lhe os piores e mais feios palavrões, xingá-lo, insultá-lo de viva voz, e logo a seguir... lamber-lhe a língua, o nariz, as orelhas, o queixo, o pescoço e sentir aquela maldita barba a arranhar-me os lábios... *cof cof* Mais pormenores depois da meia-noite, com direito a bolinha vermelha no canto superior direito. =) Reitero: Eu não sou uma ninfette!

Enfim, vou dar-lhe uma réstia de crédito e encontrar-me-ei com ele de boa-fé, mente aberta, com tolerância e disposição para ouvir. Pode ser que ele até resolva dizer algo que seja verdade, sei lá. Espero é conseguir controlar-me, a todos os níveis...

Para quem sabe alguma coisa de literatura, a título de curiosidade, o herói que este homem julga ter encarnado está no último verso d'"Os Lusíadas". [lá vai toda a gente a correr buscar a sebenta do 9º ano...]

1/15/2004

Howdy ho!

O tempo: custa a passar
Lu está: na merda

Cá está Lu na blogosfera. E perguntam vocês: "Por que carga d'água é que a Lu está na blogosfera?". Ora, toda a gente tem um blog, porque é que eu não posso ter? Não sou menos que os outros... bem, ultimamente tudo me faz parecer que sou menos que os outros... Mas isso são outros quinhentos.

E perguntam vocês ainda: "Porquê doce de...pressão?". Simples, a minha vida é uma depressão permanente à qual tenho de me habituar (já me habituei). É minha, por isso tenho de a prezar. É um "bittersweet flavour", um «contentamento descontente» (grande Camões!), algo amargo que quero tornar doce... «senão, morrerei» (Maria Mariana)

Vamos agora à actualidade... Iraque? Terramotos? Pedofilia? Recessão económica? Nada disso. Eu estou supostamente a estudar para ser uma educadora da opinião pública, uma comunicadora, uma mediadora do real... Mas como me estou a cagar para a Comunicação Social e na verdade não estudo, falo da única pessoa de quem gosto no mundo: EU. «O blog é meu, faço o que eu quero» (Rui Melo).

Para variar, estou doente. Não há pedaço de comida que me pare no estômago mais do que 2 minutos. Por este andar, do corpo esbelto e escultural de bailarina que tenho (e viva a modéstia) vou passar a um corpo de anorética e depois morro de fome. Não acredito que passaram mais de 24 horas sem ter comido um chocolate. Algo vai mal dentro de mim.

O que me põe mais doente ainda é este sentimento de rejeição. É tentar perceber que mal é que eu fiz às pessoas para elas me abandonarem e tratarem com desprezo... e não conseguir perceber. É ter tanto para dar e vê-lo a ser constantemente rejeitado. Será para dar resposta a isso que rejeito a comida? As análises clínicas o dirão.
Das duas uma: ou eu sou mesmo ruim e ainda não me apercebi disso ou as pessoas no geral é que são todas ruins. Acredito muito mais na segunda hipótese e por isso é que uma das minhas principais resoluções para 2004 é deixar de gostar das pessoas. Não vale a pena; elas deixam-me sem mais nem menos, fria e cruelmente. Eu já tinha aprendido isso, mas há uns meses descuidei-me, esqueci-me e... "f*di-me".

A propósito de frieza e crueldade, dedico um pedaço de literatura dessa grande actriz e dramaturga Maria Mariana de Oliveira (adaptada por Margarida Vila-Nova) ao autor desta minha fase depressiva - um tal fulano que vive do outro lado do rio e acredita que reencarnou um herói: «merda, merda, merda, porra, paneleiro, caralho, foda-se!» Lindo, não é? Foi o que eu pensei dele, mas infelizmente enganei-me.

Por agora é tudo e acho que chega como apresentação. Não se queixem, porque eu avisei que era deprimente; leu quem quis. Aos morons que pensam em voltar a ler as minhas "postas", aguardem, 'cause I'll keep this thing updated. Desculpem, mas o inglês é a minha segunda obsessão, depois do sexo... Just kidding! Eu nunca tive sexo de jeito :oP.
Como diria o Arnaldinho Xuázenega: "Al bi báque".