Lu está: como ontem
Ia eu no carro com o meu irmão e ele estava a falar de uma exibição de artes marciais que houve na minha zona, na qual participou um amigo nosso. Eu, espontaneamente, fiz a observação: "Ah, então o M.C. também está lá..."
O M.C. é o instrutor de karaté que dá aulas no mesmo ginásio onde eu pratico com o meu grupo de Dança. Cruzamo-nos imensas vezes e, vá-se lá saber porquê, eu sou a única do grupo a quem ele sorri e cumprimenta. Nem sei se ele sabe o meu nome, mas é sempre muito simpático. E giro. É um homem bastante interessante. É meio quadrado, por ser muito entroncado para a altura que tem. Mas tem um olhar intenso e um sorriso de derreter qualquer uma. Se calhar foi por isso que falei nele.
Quando o meu irmão me ouviu dizer o nome dele, interrompeu logo:
- Está lá o M.C. ... E então? Que é que tem o M.C.?! Hum?
- Nada. É engraçado. É simpático.
- É engraçado, é simpático, mas que fique por aí, ok?
- Mas que é que eu disse de mal?
- Nada. Também não estou a falar mal dele. Ele é simpático, é verdade. Mas ficamos por aí.
A minha cunhada, que também ia connosco, interveio logo, para picar:
- Que coisa é essa agora? Que é que tu sabes que nós não sabemos?
Depois de uma longa reticência, ele respondeu:
- Ele gosta de depenicar aqui e ali...
- Mas eu só disse que o homem é engraçado. Não disse propriamente que estava interessada nele. Também gosto de lavar as vistas.
Já não sei bem porquê, a minha cunhada passou logo o assunto para o S.:
- Olha, Lu, deixaste fugir o S.P., agora podes resolver-te com este.
- Ah, o S.P. ... Esse sim, era um bom partido para mim. Um homem simples, inteligente, culto, um bom humanista... - respondi eu ironicamente.
O S.P. é um sujeito que esteve a trabalhar na minha zona durante algum tempo, mas que agora está noutra cidade. E que sujeito... O S.P. é realmente tudo o que eu disse. Tinha a vida praticamente definida quando veio para cá, mas quando chegou, foi bombardeado com assédios de todo o tipo (não só de mulheres e não necessariamente sexual). A minha cunhada, por exemplo, passava o tempo tentar arranjar caldinho entre mim e ele. Mas não o via propriamente como o partido certo para mim.
- Oh, o S. P. não é exactamente como o pintam. O S.P. ló ló ló, bec bec bec... - continuou o meu irmão.
Fiquei pasmada com sua atitude. Eu raramente falo de homens com o meu irmão, pelo menos do que me interessam. Aliás, o meu irmão nem sequer convive com os meus namorados. Daí a minha surpresa quando relembrei uma atitude que ele costumava ter quando descobri que o sexo oposto (e o sexo em si... teehee) era algo muito interessante. E isso foi foi há muitos miaus atrás...
O meu irmão é do tipo de homem que sai sempre em defesa dos outros machos. Para ele, todos os homens são uns coitados, uns joguetes nas mãos das mulheres. Elas é que são as cabras insensíveis e as mazonas da fita. Até utiliza personagens de filmes e programas televisivos para ilustra as suas teses. Tem altas discussões com a minha cunhada por causa disso.
- Então tu dizes que os homens são uns cordeirinhos inofensivos sob as garras das lobas-mulheres, mas afinal isso não se aplica quando se trata de homens para tua irmã. Sim senhor, meu marido...
E é verdade. Com a idade que tenho, o meu irmão não perdeu o instinto protector que tem desde quando eu era uma pituca inconsciente. Para ele, nenhum homem é digno da minha pessoa. Eu também nunca gostei muito das suas namoradas. Embirrava com todas e nenhuma passava na minha avaliação. Mas acho que era mais ciúme do que outra coisa. O facto é que hoje em dia sou amicíssima de uma das suas ex e quando percebi que a minha actual cunhada era a mulher certa para tomar conta dele, aceitei-a logo como tal. Talvez ele também mude de atitude quando eu finalmente encontrar a metade que me falta.
Entretanto, vou continuar a rir com as suas expressões de desespero de cada vez que eu manifestar interesse num homem.
Continuo enervada. Era capaz de partir a cara de uma certa pessoa se estivesse à minha frente.
Como não posso, vou ver TV.
Música do momento: "Break Stuff" - Limp Bizkit