Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

2/22/2005

What a weekend...

Lu está: tentando tornar o Hoje melhor do que o Ontem

Um fim-de-semana intenso...
Espero que os caros leitores tenham cumprido o seu dever de votar - porque, afinal, é também um direito.
Espero também que o novo governo tenha um único objectivo PRINCIPAL: fazer o bem ao País. Tomem a vossa desejada maioria absoluta como um voto de confiança (ou de desespero?); não deixem que ela vos suba à cabeça para fazerem disparates. Façam por merecer essa confiança.
A Lu anda a dar aulas de Português a uma jovem italiana que está a estagiar em Portugal. Digam lá, tenho ou não um espírito altruísta? Ok, eu admito que cobro caro... *tee-hee* Brincadêrinhaaa...
A rapariga é inteligente, interessada e aprende rápido, mas não deixa de ser um desafio. Eu sempre tratei bem a Língua de Camões, mas não sou propriamente doutorada em Línguas... às vezes, depois de duas horas a falar de morfologia, campo lexical, subordinação, tempos verbais, até perco a noção do que estou a dizer. «Infinitivo Pessoal... Não... Futuro do Conjuntivo... Ah, manda vir mais um chá!». Mas tem sido giro. A moça é simpática e as aulas são também uma oportunidade de melhorar o italiano. Há-de ser muito útil quando finalmente tiver vagar para visitar os meus amigos de Vicenza.

Passei a tarde de Domingo com o T.J. . Fomos ver uma exposição e foi muito agradável. A companhia dele é das melhores coisas de que se pode desfrutar num Domingo; comecei a perceber isso à medida que nos fomos conhecendo melhor. Os últimos serões têm sido passados em longas conversas que vão do extremo disparate à profunda filosofia (dele). E ele começa a partilhar pormenores tão peculiares da sua vida, que revelam o quão engraçada é a sua personalidade. É um fulano meio inerte, acanhado, neurótico quanto ao peso (!), mas tem o tal sentido de humor apurado e a (rara) capacidade de estar em sintona comigo, mesmo quando jogo fora as minhas asperezas inconscientes, que põem fula a maioria das pessoas.
No outro dia, fiz uma das minhas observações inconvenientes, a meio de uma dissertação existencial que lhe saiu assim, do nada.
- Bolas, pareces o meu pai... e a minha cunhada: se te perguntasse o teu apelido começarias a dizer que descendes dos macacos! Nasceste para ser advogado; vocês vêm da mesma fábrica!
- Com essa partiste-me todo... Poucas são as pessoas que têm essa capacidade que tu tens.
- Qual capacidade? *olhar de espanto*
- De nos apanhar completamente incautos, desprevenidos e de vez em quando, quando se espera tudo menos o impossível, levamos com o impossível. E sentimo-nos burros perante essa genialidade. *Eu avisei que ele era meio estranho...*
- Bom, eu SOU impossível. Já te disse que poucos me suportam e infelizmente isso não é positivo.
- Eu sinto-me burro a falar contigo.
- Burro?! Mas eu não disse nada de especial. Tu é que estavas para aí a filosofar e tu é que estás sempre a dizer umas coisas tecno-XPTO, que podem até nem vir a propósito (a maior parte das vezes não vêm), mas tens sempre um assunto diferente para falar... Consegues falar de tudo um pouco (às vezes muito) e isso é bom. Há quem fale muito de pouca coisa e essas pessoas cansam-me.
- 'Tou feito em cacos. Tu é que me chamaste à realidade de uma maneira muito "cool"... Eu viajo
muito, muito... e às vezes preciso de que alguém me traga à terra e faça perceber quão inútil eu sou com estas tretas todas filosóficas, que são basicamente lixo. É a mania da importância; sabes como é, toda à gente tem a mania de que tem algo de importante para dizer. Eu não sou diferente.
- *olhar constrangido* Vês? É o que te estava a dizer: sou desbocada e digo coisas que provocam reacções inesperadas. Não tinha noção de que uma afirmação tão simples te faria pensar isso. Eu só quis dizer que, quando queres, falas muito... até demais... Isso para mim não é mau, porque eu vivo com gente assim. Era só uma observação, não era um juízo. Não estava a falar da qualidade do que dizes (nem me deixaste chegar a essa parte), mas da quantidade. Achei engraçado. Só isso.
- 'Tás a ver?! É o que te digo. Falar contigo nunca se torna aborrecido. Tens uma espécie de humor que para certas pessoas pode ser ofensivo. Para outras, e sobretudo para pessoas envolvidas com o mundo da expressão (a todos os níveis) é divertido e entusiasmante. Essa é uma qualidade muito rara...
- Uau... vou apontar essa! *e fui mesmo buscar o meu bloco, instantes depois!*
- ... Essa qualidade é própria da excentricidade e naturalidade expressiva de uma criança (não te estou a chamar criança), qualidade essa que grande parte dos adultos não possui, que é a capacidade de surpreender tanto aos outros como a si próprio. E a surpresa é descoberta, é saber, é evolução. Uma criança nunca está satisfeita, e essa insatisfação é que faz o homem mover montanhas. Prevejo-te um futuro áureo. A sério.
- Ah, amigo, podes estar certo de que a minha criança não morreu. *claro, porque é que vocês acham que escrevo um blog?* Está sempre aqui, latente.
Bom, depois a conversa descambou de novo para o disparate. Videntes, professor Bambo e tal... E tal nada! A gente fala, fala, fala, fala... e no final não diz nada! *Lu a citar Gato Fedorento?! O que se está a passar?*
Ouvi as reflexões do T.J. com tanto agrado, que achei "munito" usá-las para enfeitar o blog.
A companhia dele fez-me muito bem neste fim-de-semana em que recebi uma triste e chocante notícia, que me pôs num estado de melancolia e a pensar em montes de coisas...
O pai de uma das minhas amigas faleceu num repentino ataque cardíaco... enquanto ela estava de férias no Brasil. No dia seguinte à morte, quando fui à cerimónia em memória dele, a minha amiga ainda não sabia de nada... Só posso imaginar o quão terrível deve ser para ela este momento, esta sensação impotência face à fatalidade.
Nos últimos tempos, muitas pessoas próximas de mim têm perdido os seus entes queridos. Alguns inesperadamente; outros, depois algum tempo de sofrimento... Isto faz-me sempre pensar que valor tenho dado à vida; à minha e à dos que amo. De que forma tenho feito com que cada dia seja melhor do que o anterior, para mim e para os outros... Para que o caminho em direcção ao que quer que haja depois da morte seja sempre uma ascenção e nunca uma queda.

Lu is: trying to make Today better than Yesterday
Intense weekend...
I hope my dear readers have accomplished with their duty of voting - after all, it's also a right.
I also hope the new government has solely one MAIN goal, which is doing good to the Country. Take that desired absolute majority as a trust vote/vow (or despair?) Don't let that turn you blind and dumb. Earn that trust.

Lu's been giving out some Portuguese lessons to an italian girl who's an apprentice in Portugal. Am I an altruist woman or what? Ok, I confess I charge a lot... *tee-hee* j/k
The girl is clever, interested and learn fast, but it's always a challenge. I've always been a friend of the language of Camões, but I'm not a doctor languages... Sometime, after 2 hours of talking about morphology, lexical circle, subordination, verb tenses and whatnot, I even lose the notion of what I'm saying. «Personal Infinitive... No... Subjunctive Future... Ahh, bring me some more tea!». But it's been a fun experience. The gal is nice and the lessons are also a chance to improve my italian. Quite useful for when I finally get the time to visit my friends in Vicenza.
I spent Sunday afternoon with T.J. . We went to an exhibition and it was very pleasant. His company is some of the best things one can enjoy on a Sunday; I started realizing that as we got to know better one another. The last few evenings have been spent in long conversations that go from the extreme nonosense to (his) deep phylosophy. And he starts sharing peculiar details of his life that reveal how interesting is his personality. He's a somewhat inert, coy, neurotic about his weight (!) guy, but he's got that sharp sense of humour and the (rare) ability of being n'sync with me, even when I throw my harsh (yet unconscient) statements that freak out most people.

The other day, I made one of my improper observations, midst an existencial dissertation that he pulled out of nowhere.

- Gee, you sound like my dad... and my sister-in-law. If I asked your family name, you'd start saying you descend from apes! You were born to be a lawyer; you guys come from the same factory!
- You totally blowed me out with that one. Few people have that ability of yours.
- Which ability? *amaze look*
- The ability of catching a guy completely unaware, unprepared and sometimes, when they expect everything but the impossible, they get the impossible. And they feel stupid with that genius. *I worned you people that he's kinda weird...*
- Well, I AM impossible. I've already told you that few people stand me and that's not cool.
- I feel dumb when talking to you.
- Dumb?! But I didn't say anything special. You're the one who was throwing philosophy out of nothing and you're the one who's always saying weird stuff about weirder stuff. You always have something new to talk about. You can say a bit about everything (sometimes it's a lot) and that's good. Some people say a lot about almost nothing and that kind of person bores me.
- I'm totally knocked out. You woke me up in a cool way... I travel a lot... and sometimes I need someone to bring me back to earth and make me realize how lame I am with all this phylosophic crap, which is basically trash. It's this thing of being important; you know, everybody thinks to have something important to say. I'm not an exception.
- *shy stare* See? That's what I was telling you: I don't think before opening my mouth and that causes surprising ractions. I didn't think that such a simple statement would make you say that. I just meant that when you want, you can talk a lot... you even talk too much. That's not a bad thing, because I live with people like that. It was just an observation, not a judgement. I wasn't talking about the quality (you didn't even let me get to that part), but about the amount of what you say. I found it funny, just that.
- See?! Talking to you is never boring. You have a kind of humour that for some people might be ofensive. For others, especially the ones involved in the expression world (at every level), it's fun and exciting. That's a very rare quality...
- Wow... I'm gona write that one down! *and I did *go and pick my note book a few moments after!*
- ... That quality is usual in the natural expression of a child (I'm not saying you're childish), and most grown up people don't have that quality, the ability of surprising the others and yourself. And surprise is discover, it's knowledge, it's evolution. A child is never satisfied and that insatisfaction is what makes the mankind move mountains. I preview a golden future for you. Seriously.
- Oh, you can bet that the child in me didn't die. *of course, why do you guys think I write a blog?* She's always here, ready to blossom.

And then the chat went down to nonsense. Psychists and whatnot...
T.J.'s reflexions were so pleasant to me that I felt like using them to colour up the blog.

His company has been pretty helpful on this weekend. I received sad and shocking news, that have made me melacholic and thinking about loads of stuff...
The father of one of my friends died of a sudden heart attack... while she was in Brasil, on vacations. On the day after the death, when I went to the cerimony in his memory, my friend still didn't know about anything... I can only imagine how terrible this moment must be for her, this feeling of weakness facing fate.
Lately, many people close to me have lost their loved ones. Some went suddenly; others have gone through a long suffering path... This always makes me wonder how much I've been cherishing life; my own life and the life of the ones I love. How have I been making each day better than the day before, for me and the others... So that the way to whatever there is after death can always be a rise and never a fall.