Sweet Depression

É doce, é uma pressão constante... O blog de uma artista cronicamente deprimida... ou simplesmente deprimente. The blog of a depressive and depressing artist.

7/02/2004

Os cromos

O tempo:
Lu está: "cromada"

Ora hoje lá começaram os ensaios para um espectáculo de Dança no qual vou participar em Setembro. Depois de me recompor minimamente da tristeza desta manhã, saí de casa.

O encontro de hoje não foi exactamente um ensaio. Foi mais uma partilha de experiências entre as bailarinas e o coreógrafo para recolher ideias. Ele já nos tinha observado em vídeo, viu o carisma e a linguagem de cada uma; aproveitou alguns movimentos... Hoje foi dia de juntar as primeiras peças do puzzle e fazer experiências.
Pediram-nos para pensar nos cromos com quem convivemos no dia-a-dia. Escolher um. Uma. Colocarmo-nos na sua pele.
Eu escolhi uma colega (fora da Dança, claro) com quem até dá para trabalhar bem... mas que como pessoa é detestável. Sim, Li, eu sei que sabes quem é.... Xiiiu!!! ;)
Juntámos à frase de movimento, expressões, dizeres, posturas e atitudes típicas das nossas cromas de eleição. Eu estava demasiado concentrada a interpretar a minha personagem para reparar no espelho, mas dizem o coreógrafo e a assistente que ficou um efeito excelente.

E vai ser esta a abertura do nosso espectáculo. Vamos mostrar os nossos cromos ao público. E muitos desses cromos estarão lá, na assistência, visto que são pessoas que convivem connosco. Das duas uma: ou são tão cromos que nem se vão rever nos nossos corpos ou têm um pingo de vergonha e hão de se mancar quando nos virem.
Já tinha feito uma experiência semelhante quando andava a estudar Teatro e foi bastante construtiva. Com a maioria dos intervenientes não foi preciso dizer: "olha, este és tu". Para todos, até para o próprio alvo de sátira, era claro como a água. Alguns ainda se pasmaram: "O quê?! Eu sou assim??". Mas todos aprenderam com os outros.

Acho que todos os grupos, os que são obrigados a uma convivência permanente, deviam fazer isto, pelo menos uma vez. Não devia ser só uma "brincadeira de artistas". Famílias, PMEs, turmas académicas, grupos de trabalho, círculos de amigos, todos deviam experimentar isto. Eu sei que parece ridículo, mas é também através do ridículo; de observar o nosso próprio grau de ridicularidade que aprendemos e nos construimos uns aos outros. É mostrando os hábitos, os defeitos, os tiques, as características do outro que o fazemos cair em si e melhorar, se necessário. E vice versa. Esta é simplesmente uma maneira diferente e mais criativa do que simplesmente falar ou apontar o dedo. E sem dúvida a mais explícita.